Após perícia nos sapatos da jovem, foi constatado que haviam manchas oriundas da casca do tronco da árvore. Como suas unhas estavam muito bem cortadas, e nelas não seriam possíveis encontrar resquícios de madeira da árvore, Andreas achou por bem examinar o referido calçado. Como não haviam lascas de madeira no chão no dia do ocorrido, presumiu-se que a jovem obteve tais marcas nos sapatos em virtude de ter, por alguma razão, subido na grandiosa gameleira.
O nervosismo se fez no semblante da jovem Laura. Teria de dar explicações à polícia. O que fazia na árvore, afinal? Caíra dela e por isso perdera os sentidos? Não havia crime algum? Nem alienígenas? A jovem fora conduzida imediatamente para o departamento policial. Um advogado da defensoria pública, a pedido dos pais da menina, fora requisitado.
Após horas de interrogatório, onde a garota preferiu ficar em silêncio, não respondendo a nenhuma das perguntas, decidiu-se, então, que a garota deveria ficar recolhida por um período indeterminado. A polícia suspeitava de que ela corria e/ou risco, pois não parecia estar gozando de plenas faculdades mentais. O quarto da jovem seria revistado.
No fundo de um baú antigo, dentro de um velho livro de capa bordô, Andreas encontrou um bilhete feito à mão. Ei-lo:
‘‘Querida Laura,
Espero que esta carta te encontre bem. Ontem à noite, eu fui ao parque e encontrei uma árvore linda, com galhos que pareciam braços abertos. Senti uma conexão estranha com ela. Resolvi fazer ritual para nos unir ainda mais. Gravei nossos nomes em um galho no cume da árvore, uma gota do meu sangue selou a minha parte do nosso acordo; falta você fazer a sua parte… Ah, sussurrei palavras de amor e pedi que a natureza nos abençoasse. Sentí que nossa energia se misturou com a da árvore.
Com amor, Armando.’’
Ao que parecia, a jovem Laura estava envolvida em um relacionamento extraconjugal. Estava traindo o seu namorado com o tal Armando, que não se sabe se também tem uma outra mulher em sua vida. O silencio da jovem se dava, certamente, para que todos não ficassem sabedores da sua segunda vida escusa! Ela subira na árvore para ritualizar, cumprindo assim a parte que lhe cabia. Certamente, nisso, caíra e ficara inconsciente.
Andreas resolveu ligar todos os fatos e verificar se não haviam arestas neste caso; se não havia algum fio solto. Decidiu contar a Laura que sabia da carta e do seu segredo, e que seria melhor assumir os fatos e colaborar com o investigador se quisesse sair dessa situação embaraçosa e delicada sem maiores consequências jurídicas, posto que as razões morais não competiam à polícia debruçar sobre.
Compilada a contar a verdade, a confessar sobre a sua suposta segunda vida amorosa, a garota não reconheceu a carta como pertencente a ela. Disse que não tinha ideia de como ela fora parar em seus pertences. E que não tinha envolvimento com nenhum outro homem; que era uma moça fiel, de princípios e temente a Deus e Seus preceitos. Chorou ante a acusação do investigador.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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