Tenho comigo as palavras do professor Marcos Agra, quando estudava o pré-universitário em Campina Grande: – “Leia tudo. Dos clássicos aos cordelistas, mas escolha bem as suas leituras.”
Àquela altura, para um filho de uma cidade pouco afeita à literatura, já era considerável o que havia lido. Gostava dos regionalistas de 30, sobremaneira Jorge Amado, Graciliano Ramos e Érico Verissimo. Deste último, com a idade de 16, 17 anos, traçara os cinco volumes da trilogia O Tempo e o Vento, além do ‘pequeno príncipe’ brasileiro Olhai os Lírios do Campo e o excepcional Incidente em Antares, que considero o seu melhor romance. Um pouco de Alencar e Machado de Assis. Este viria a ser a minha cachaça algum tempo depois.
Além deles, já conhecia um pouco da literatura portuguesa, Eça de Queirós à frente, de quem lera O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro, A Ilustre Casa de Ramires e Os Maias.
Entre os poetas, lia com freqüência Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinicius de Morais. Era capaz de dizer de cor muitos dos seus poemas, o que despertaria em mim o interesse pelo teatro, que faria a partir da época de Campina Grande.
Em 1975, seria premiado como o ator revelação do ano, pela interpretação de um dos papeis centrais da peça O Palácio das Ilusões de Uma Negra, escrita a quatro mãos por Adrianne Kennedy e John Lennon.
Mas foi o professor Agra quem me apresentou autores mais profundos, emprestando-me os primeiros Kafka, Wilde, Proust e um ou outro russo. Daí nasceria o meu entusiasmo pela literatura francesa, sobretudo, com a descoberta de Flaubert, Zola, Balzac, Sthendal e os malditos Baudelaire, Rimbaud e Paul Verlaine.
Depois viriam Dostoiévski, Tólstoi, Górki e Tchékhov. Deste, sobretudo os textos teatrais me impressionavam. Ao ler as peças As Três Irmãs, A Gaivota e Tio Vânia, adquiri o hábito de ler os textos para teatro como produções literárias, uma vez que só muito raramente teria a oportunidade de vê-las montadas no palco. Sobre a literatura dramática falarei adiante.
Mais tarde descobriria Nelson Rodrigues, o grande gênio do teatro brasileiro e um dos nossos melhores cronistas. Ainda hoje, sempre que posso, releio Nelson, mais que isso, estudo Nelson Rodrigues, muito antes de seu teatro e suas crônicas caírem no gosto do grande público, há coisa de uns dez ou doze anos.
Tenho medo, leitor, que soe arrogante declinar tantos nomes de autores e obras nestas minhas memórias. Mas, ainda que correndo o risco de ser mal-entendido, vou em frente. Quero que este livro suscite algum interesse pela grande literatura. É meu ofício de professor fazer despertar a curiosidade pelos bons livros, contaminar aqueles que não foram contaminados ainda com o micróbio desta doença maravilhosa que é a paixão pela arte. Se a vida, por algum golpe do destino que não sei bem explicar ou entender, fez-me assim, vejo nisso um tipo de milagre e quero partilhar com você as suas benesses. As boas coisas devem ser divididas. Permita-me fazê-lo, que é boa a intenção!
*Terça-feira, 29 de outubro
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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