Rastros de destruição e prejuízos no Centro-Sul

28/09/2019

Desde quando começou a onda de ataques criminosos no Ceará, na sexta-feira, 20, em Quixadá, no Sertão Central, os crimes se intensificaram principalmente na capital Fortaleza, logo em seguida se espalharam para outras cidades do interior do Estado, deixando rastros de destruição e prejuízos. Jucás, Várzea Alegre e Iguatu, na Região Centro-Sul, também estão na lista dos ataques.

O primeiro ataque na região aconteceu na noite da segunda-feira, 22, em Jucás, quando quatro veículos da Prefeitura foram incendiados. Um carro da coleta de lixo, uma caçamba e dois ônibus escolares que também ficaram completamente destruídos pelo fogo. Os veículos estavam estacionados em frente à garagem da Prefeitura, que funciona anexa ao prédio da Secretaria de Infraestrutura que também chegou a ser atingido pelo fogo. “Graças à ação imediata dos bombeiros de Iguatu, que chegaram antes que o fogo atingisse não só o prédio, mas também o estacionamento interno, onde estavam outros veículos muitos deles carros novos”, disse o secretário de Educação de Jucás, Aurélio de Souza. A Prefeitura de Jucás estimou em mais de R$ 700 mil de prejuízo. No dia seguinte, o prefeito de Jucás, Raimundo Luna, autorizou a compra de outros quatro novos ônibus para a rede municipal de ensino. As aulas foram normalizadas na cidade. Cerca de mil e trezentos alunos fazem o uso dos transportes.

Em Jucás o clima ainda é de medo. “A gente não se sente seguro, porque eles fizeram uma vez aqui, estão fazendo em outras cidades. Isso pode ocorrer de novo. Coisa que a gente só vê na televisão e longe da gente, acontecer aqui perto de casa, dá medo”, comentou o agricultor Francisco de Assis Maia.

Várzea Alegre

Na madrugada da quarta-feira, 26, bandidos realizaram três ações em Várzea Alegre:  tentaram atear fogo no Fórum de Justiça, na garagem da Prefeitura, e incendiaram um ônibus de uma empresa de turismo, que ficava estacionando na rodoviária. As ações criminosas chamaram a atenção de curiosos e moradores, que se mostram preocupados e com medo por conta da violência. “Não dormi mais depois que soube desses ataques. A gente fica com tensão grande sem saber o que pode vir acontecer novamente. Minha filha estuda fora, toda noite o transporte deles chega tarde. A gente fica com medo que também aconteça com eles, como estão fazendo por aí”, lamenta a conselheira tutelar Ana Bezerra.

O ônibus pertencia a uma empresa de turismo local. De acordo com Ediglê Francelino, presidente da Várzea Tur, a empresa é nova, começou a funcionar em abril deste ano, tem 12 sócios e o ônibus era o único carro que prestava serviços. O prejuízo estimado com a perda do carro ultrapassa R$ 250 mil. Além do ônibus, haviam mais quatro topiques próximas, mas não foram atingidas pelo fogo. “Estamos apreensivos com as ações criminosas contra as empresas que fazem transporte público. Somos trabalhadores. É dos nossos transportes que tiramos nosso sustento. Agora temos que começar do zero, e ter que alugar um ônibus para cumprir com os fretes já programados para novembro e dezembro. O que temos a ver com isso, por que essa violência toda?”, indagou.

Ainda em Várzea Alegre, as outras duas ocorrências contra o Fórum de Justiça e garagem da Prefeitura foram frustradas por moradores que conseguiram apagar as chamas. As polícias militar e civil trabalhando em conjunto intensificaram as ações e operações no intuito de prender mais pessoas envolvidas nesses casos. A suspeita é que os ataques são decorrentes de pessoas ligadas a uma facção criminosa que tem atuação no Ceará.

Polícia prende oito adultos e apreende cinco adolescentes suspeitos

Em Iguatu, assim como a maioria dos municípios do Estado, acabou sendo alvo dos ataques criminosos que ocorrem no Ceará desde sexta-feira, 20. A atuação creditada pelas forças de segurança às facções criminosas e é tratada como represálias as políticas de atuação do governo nas unidades prisionais onde estão a maioria das lideranças do crime organizado. Na maior cidade do Centro-Sul, um caminhão foi incendiado, oito pessoas foram presas e quatro apreendidas na semana.

Na terça-feira, 24, uma operação conjunta entre as polícias Civil e Militar resultou na prisão de sete pessoas e apreensão de três adolescentes (um de 15 e dois de 17 anos) suspeitos de planejarem ataques na cidade de Iguatu e região. A ação ocorreu no Bairro 7 de Setembro, na Travessa José Pereira, Iguatu. O grupo foi detido em posse de material habitualmente usado em ações criminosas contra patrimônios públicos e privados, como vem acontecendo na Capital Fortaleza e no interior do estado.

Conforme o serviço de inteligência, um plano para atacar a própria delegacia, equipamentos públicos e carros de concessionárias era articulado pelos suspeitos. Dentre os detidos na primeira ação policial estavam quatro mulheres. Com o grupo foram apreendidos galões de gasolina, oito garrafas de coquetel molotov, droga, dinheiro e celulares suspeitos. “Conseguimos intervir a tempo. A população tem que entender que ela faz parte da força de segurança. Conseguimos chegar ao caso graças a denúncias anônimas. E assim vamos combater essa criminalidade com o elo entre polícia e sociedade”, destacou Marcos Sandro, delegado regional.  

Suspeitos

Nailson Lima da Silva, 22, João Victor Fernandes de Sá, 20, Daniel Barbosa Mourão, 21, Janaina Gomes da Silva, 21, Alessandra Horizonte Brasileiro, 21, Francineide Maria da Silva, 51, e Hemily Steffane Nogueira Ribeiro, 20, foram presos e autuados por associação criminosa.

Caminhão do lixo

Um galpão que serve de garagem para veículos da prefeitura na Rua Porfírio Alves, no Bairro Veneza em Iguatu foi alvo de ataques criminoso na madrugada da quinta-feira, 26. No momento do ataque havia 6 veículos estacionados, porém apenas um foi atingido e graças à ação rápida do Corpo de Bombeiros o fogo não se alastrou para os demais.

Três suspeitas, dentre elas duas adolescentes de 17 e 16 anos, e Antônia Maria de Fátima Alves Batista, 24, foram conduzidas para a Delegacia Regional de Iguatu. Elas estavam próximas ao local da ocorrência em posse de garrafa vazia de combustível, mangueira e um isqueiro.

Segundo o delegado Marcos Sandro, o grupo passa a ser suspeito também de orquestrar os ataques registrados na madrugada da segunda-feira, 23, na cidade de Jucás, quando dois ônibus, uma caçamba e um caminhão de lixo foram incendiados.

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