Completamente inconcebível e burra é a crítica sociológica sobre Machado de Assis. Não há espaço para tais tolices na obra do nosso maior escritor. O homem, que é também a obra, foi apolítico, absenteísta e felizmente nunca esteve ligado a nada da nossa paupérrima brasilidade, seja lá o que isso possa significar.
Um dos romances mais vítima dessa pseudocrítica é o Dom Casmurro. Lido e interpretado erradamente (esses analistas aprenderam mesmo a ler?) como reflexo de uma sociedade patriarcal e machista na qual o Bentinho está inserido como algoz ou como louco a inventar ciúmes doentios. Ora, isto é distorcer a obra. É não entendê-la em seu âmago. É forçar cretinamente uma leitura apoiada em detestáveis ideologias de esquerda e de gênero.
O profundo sentido desta obra, seu tour de force, é recuperar o pathos da tragédia grega. O esmagamento do homem por forças a ele superiores. O romance é sobre um homem débil psicologicamente que é destruído por uma maquiavélica mulher fatal. Bentinho é, a priori, vítima dele próprio. E joguete nas mãos inescrupulosas da adúltera Capitu.
Uma enorme idiotice ouvimos a crítica afirmar: “não devemos discutir, pois não está provado, o adultério de Capitu. Isto não é o mais importante na obra.”. Cavalice sem tamanho! Devemos, sim, discutir pormenorizadamente tal tema. É fulcral para o entendimento do romance. O adultério existiu, arruinou a vida do esposo Bento Santiago e é o móvel, afinal, da própria narrativa.
Há provas inequívocas do crime da Capitulina. Todos, à volta do casal, incluindo o agregado José Dias, veem o caráter falho, dissimulado, desta mulher desde quando ela era ainda criança. Ela possui a potentia criminis, a potência do crime. Isto já é quase o crime.
Imaginemos a cena: uma pessoa é encontrada em um aposento com uma arma na mão, sozinha, e ao seu lado um cadáver com uma bala no peito. Não é preciso perguntar quem foi o assassino. É exatamente esse o caso de Capitu. Tudo no romance a incrimina. Culpada! Eis a sentença.
Mas, apesar de tudo, Capitulina não se configura como a Empoderada. Não. Capitu era bela, inteligente, não era agressiva e recalcada. Era apenas uma fatalis femina destruidora e cruel como é de praxe no seu gênero. Aprendamos a ler Machado de Assis.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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