Aloísio Dutra, o último dos ourives

02/11/2019

Quando deu os primeiros passos na direção da oficina do pai, o experiente ourives Manuel Dutra ‘Manu’ (saudosa memória), Aloísio só tinha 07 anos de idade. Foi há quase 50 anos. Hoje, ele ocupa uma profissão quase extinta. Ourives é o artesão que manipula o ouro e a prata, desmancha o metal, constrói novas peças, recupera joias. É um inventor de peças valiosas e únicas, propriamente dito, um artista que transforma metal bruto em objetos de arte. Profissional da ourivesaria, a arte de criar ornamentos, a partir de metais preciosos, ouro ou prata.

Curioso é ver o ouro ou a prata no estado sólido se transformar em líquido pelas mãos do ourives. Aloísio, por exemplo, usa uma peça de madeira (cedro) como base, por ser uma madeira resistente ao fogo, um maçarico movido a gás, alicate, e muita paciência para alcançar a transformação e a perfeição. Muitas vezes o trabalho é feito na frente do freguês.

Em meio a uma parafernália de ferramentas, máquinas e outros instrumentos, cada um com uma função, nas mãos do ourives, foi Aloísio quem a reportagem encontrou em plena atividade em sua Casa de Ourives. Em Iguatu, ele é o único ainda em atividade. O próprio artesão relata dados lamentáveis sobre a profissão. Segundo ele, há uma década, somente na região do Cariri (Juazeiro) eram cerca de 300 ourives, números hoje reduzidos a 10%.

Num espaço de menos de 20 metros quadrados é onde fica a Casa de Ourives, na Galeria Gustavo Correia, centro de Iguatu. Aloísio já permaneceu mais tempo neste espaço do que até mesmo em casa com a família. Mas é o lugar que lhe dá prazer e satisfação, porque é dali de onde tira o sustento da família há quase quatro décadas.  Além disso, a responsabilidade de lidar com joias, as mais diversas. De tanto atuar no ramo, ele já as conhece bem; diamante, rubi, esmeralda, safira. Conhece pelo nome e pelas características de cada uma.

Pessoal e profissional

Seguir os passos do pai na profissão foi um caminho que ele percorreu. Quando tinha a primeira idade ainda, o pai Manu já o carregava para o trabalho, na loja A Vitoriosa, mesmo endereço onde Aloísio atende sua clientela e onde realiza sua arte. Diariamente é intenso ali o entra e sai de pessoas que vão em busca dos serviços do artesão. Trabalha todo dia para atender as demandas da clientela. Somente na sexta-feira da Semana Santa ele não dá expediente.

Aloísio se reconhece na profissão que surgiu há quase cinco mil anos, mas se diz triste, por ser o único ourives do Centro-Sul. “É uma profissão que está desaparecendo, ninguém vê mais a figura do ourives”, disse. Aloísio aprendeu com seu pai, mas não quis transmitir a profissão para os filhos.

O ourives Aloísio Mendes Dutra é pai de dois filhos, o engenheiro civil Aislan Nogueira e a acadêmica de Medicina, Ianara Nogueira Dutra. Coincidentemente o filho que se formou recentemente na área de engenharia voltou para a cidade natal e montou o escritório numa sala ao lado da Casa de Ourives do pai, um orgulho para o artesão. O outro orgulho dele é a filha, futura médica, Ianara, atualmente no 6º semestre de Medicina.

Uma das coisas que mais o ourives Aloísio se orgulha é dizer que foi dali de onde ele tirou os recursos, para juntamente com a esposa Diana Raquel, que é professora, juntando com a renda dela, pagar a faculdade dos filhos e manter a casa, e a vida simples da família. Inegavelmente, ele reconhece que foi a ourivesaria que lhe deu o rumo da vida pessoal e profissional. Mesmo sabendo que é uma profissão quase extinta, ele jamais lança qualquer sinal de arrependimento da profissão que escolheu. “Faria tudo de novo”, afirma.

Saiba mais

A profissão de ourives ainda é bastante comum ao redor do mundo, porém não possui o mesmo glamour que outrora. Durante a Idade Média, por exemplo, os ourives eram considerados profissionais de enorme prestígio entre a realeza.

A arte da ourivesaria pode ser considerada uma das profissões mais antigas do mundo. Alguns registros mostram que há 2.500 a.C. (cerca de 4.500 anos atrás) já se fabricavam joias e outros ornamentos feitos artesanalmente com ouro.

Os egípcios antigos eram mestres na produção de ornamentos feitos com ouro, objetos que possuem uma riqueza enorme de detalhes e que são considerados valiosas relíquias nos dias de hoje.

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