Cauby Fernandes*
No meu sonho, o menor envolvimento social é o ideal; principalmente quando se aproxima da época dos festejos natalinos e do réveillon. Antes de tudo, advirto que pouparei o prezado leitor das reclamações clichês sobre a falsidade humana. Não pretendo me fazer “o diferentão” da vez. O meu intuito aqui é fazer com que os que pensam como eu não se sintam assim tão únicos.
Muitos passarão as supracitadas “noites especiais”, na solidão aprazível dos seus quartos e salas. Alguns se acharão completamente embriagados e, por isso, felizes em ser a sua própria companhia. Não ouvirão Simone nem comerão peru ou chester (onde, na realidade, não saberia qual a distinção dentre essas duas aves nada palatáveis), também não comerão os detestáveis e doces panetones. Champanhe, espumante? Dispensarão também bebidas delicadas e envergonhantes como essas. A embriaguez verdadeira advém de bebidas para gente que não cai após o primeiro titilar fresco de taças.
Não ouvirão desejos de “feliz Natal” e “feliz Ano Novo”… Mas estarão, repito, felizes em suas próprias companhias. O ostracismo, a reclusão só dói aos espíritos pobres. O homem que consegue gozar da liberdade da sua solidão – como aprendi com Schopenhauer – encontrou o verdadeiro amor pela autêntica liberdade.
Pois bem. Não há nada de errado em evitar confraternizações, meu caro amigo. Não se sinta compungido por se esquivar dos convites para eventos familiares ou empresariais. Não ceda a essas convenções sociais que pouco ou nada contribuem para a sua formação intelectual e/ou moral. Prefira, antes de tudo, o silêncio dos vizinhos que viajaram. Opte pela paz de ouvir as suas próprias canções… beber da sua própria bebida, fumar do seu próprio cigarro, cair na sua própria cama ou chão da sala…
Se bastar é o caminho mais curto para evitar qualquer dependência de satisfação para com o mundo externo. Aliás… suportar a si mesmo já é uma vitória espetacular, que dirá suportar gente chata – que, por falar nisso, apinham eventos dessa natureza com suas intragáveis e polvorosas presenças.
Agora, se o senhor, que está a ler estas curtas linhas, concebe a ideia de que vale a pena uma modesta e inconspícua confraternização com no máximo dois ou três amigos verdadeiros, e tens, após isso, a oportunidade de estares na presença da sua garota, que tanto lhe quer bem, não pense duas vezes! Nada poderá interromper a solidão de um homem, exceto a amizade verdadeira e o amor de uma mulher. E quanto ao restante? Bem, o restante é plenamente dispensável… é, como a palavra sugere, apenas resto…
*Contista, cronista, desenhista e estudante universitário
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