As observações populares da natureza sobre plantas, animais, aves, insetos e até mesmo o vento Aracati (que sopra do litoral para o interior) podem indicar características da quadra invernosa, de acordo com a cultura popular nordestina. Em Orós, aconteceu mais uma vez, no último 06 de janeiro, dia de Reis, o Encontro de Guardadores de Sementes Crioulas e Experiências de Chuvas. O evento realizado há mais de 15 anos, idealizado pelo cantor e compositor Zé Vicente, acontece no sítio Aroeiras. “São sabedorias que ainda resistem ao tempo, que praticamos ainda hoje, principalmente pelos agricultores mais antigos”, destacou Zé Vicente.
E mais uma vez um grande grupo de agricultores, curiosos e de incentivadores da cultura popular de observação sobre chuvas se reuniu para debater e escutar as previsões de quem mantém viva a tradição. Este ano o encontro foi na sombra do centenário Juazeiro, árvore frondosa, que abrigou agricultores de várias localidades rurais de Orós, de cidades vizinhas e até de outras regiões do estado do Ceará.
Observações
Durante o encontro, os agricultores trazem suas observações da natureza e fazem relatos sobre a expectativa da quadra chuvosa que acontece entre fevereiro a maio. O mais forte dos relatos é a esperança de bom inverno. O agricultor José Flávio observa o vento Aracati. “Aprendi a observar o Aracati com seu Antônio Alcântara, idoso que participava desse encontro. Há mais de trinta anos, sempre que ia plantar, perguntava sobre o vento. Se tinha bom sinal. E ele sempre me aconselhava bem. Antes mesmo dele morrer, em agosto do ano passado, ainda fez suas últimas previsões. Disse que em janeiro chovia, e entramos o ano debaixo de chuva, mas que será a partir da segunda quinzena de março que o inverno vai se firmar mais um pouco. Pelo que observarmos, estamos confiantes em um bom inverno”, previu.
Dona Maria de Fátima Lima observa a barra do nascimento. “Como a gente chama aqui a Barra do Natal, quando o sol nasce no dia de 25 de dezembro. Este ano ela estava bonita. É sinal de boas chuvas”, comemorou.
Tradição e sabedoria popular
Leydomar Nunes é promotor de Justiça. Nos últimos anos, passou a participar do encontro por curiosidade. “Vejo como um fortalecimento dessa tradição que pouco ainda é mantida ainda no nosso meio rural. A gente sai daqui fortalecido com tamanho aprendizado”, contou.
A maioria dos relatos foram posicionados favoráveis a um período de chuvas entre a média regular para boas chuvas acima da média histórica. “O que vale num encontro desses não é saber quem acerta mais, quem é o melhor, mas realmente manter essa tradição. Esse encontro junta essas pessoas tão ricas em sabedoria e conhecimento popular. Há muito tempo estudo esses encontros, acompanho não só esse aqui, mas em outras cidades e principalmente o de Quixadá, que acontece este final de semana, o qual eu ajudei a fundar com profetas de lá”, ressaltou Hélder Cortez.
Após a roda de conversa, acontece a troca de sementes crioulas ao som de muita música, encerrando o encontro, regado também de almoço compartilhado.
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