Lutar com palavras é a luta mais vã, já disse Drummond. Eu luto com palavras, mas não como ele disse. Luto com elas, são as armas que carrego nas mãos limpas de rapaz latino-americano.
A palavra é das coisas mais poderosas, e não por acaso o mundo é criado, no Gênese, pela palavra. Primeiro foi o verbo, e o poder da palavra move montanhas.
Mas minha luta com palavras, longe das montanhas e dos profetas, é aqui mesmo, nessa cidade de lagoas e aterros.
Me visto de Dom Quixote, ou de índio Quixelô, como diz meu amigo Giovani de Oliveira, e vou para a batalha.
Faço das palavras espada e escudo, faço das tripas coração. Digo o que meu coração transborda, digo o que meu coração gostaria de transbordar, digo o que me distrai, digo o que provoca meus semelhantes a acordar.
Palavras como lanças ferindo dragões, moinhos de vento ou o que mais passar no meio, às vezes até minha própria língua. Faz parte, faz parte.
Me divirto com as palavras, com a peleja de juntar as ideias em uma frase perfeita, que diga a mensagem mais direta, que faça acordar os homens e adormecer as crianças, como Drummond também um dia quis fazer.
Lutar com palavras é a luta mais vã, se for contra elas.
Eu bem que sei, e também é perigosa. Eu sou apenas um pronome, elas, um plural vocabulário inteiro, maior que a riqueza da Amazônia para se maravilhar e se perder.
Isso de ser escritor, dos artistas, o vagabundo, é ser esse alquimista trabalhando com esse material tão delicado.
Pegar as coisas no ar, transformar, condensar, e as palavras se transformam no que se quer, remédio, veneno, matam e curam, fazem glória e desgraça.
Não se pode ser irresponsável com elas, e não adianta forçar a barra com as palavras, elas são precisas e se não forem bem amarradas, tudo se desmorona, não cola.
Lutar com palavras, luta mais vã. O poeta ensinou, lá em outra parte, quem quiser vá lá procurar, não se pode lutar com palavras, que a causa é perdida.
É melhor tentar aprender a lutar com elas ao lado, a escola que tento todo dia a aprender mais um pouco nessa arte mais que marcial.
Jan Messias é radialista, fotógrafo e estudante de direito
0 comentários