Sentar à calçada: hábito, tradição, costume

08/02/2020

Desde a formação da cidade que seus moradores vêm cultivando um hábito que por si só já era uma tradição de seus pais, seus avós e outros antepassados que é de sentar à calçada. Em fins de tarde, à noite e até pela manhã, sentar à calçada em cidades do interior já virou uma tradição de muitos e muitos anos. Este costume, em algumas cidades de maior porte, está desaparecendo. Duas características são marcantes no ato de acomodar-se em cadeiras às calçadas. A primeira: geralmente as pessoas estão em grupos, de famílias ou de vizinhos. A segunda: o que elas conversam: basicamente tudo. Inegavelmente até uma fofoquinha, vale, até porque ninguém resiste ficar sentado, vendo, ouvindo e não puxar um assunto da vida alheia.

O ex-sapateiro aposentado, Antônio Gomes de Souza, com a filha Neide sentados na calçada de casa na Rua 13 de Maio, mantendo uma tradição secular

Percorrendo a cidade, ruas e bairros, no centro ou periferia é muito comum encontrar as pessoas, individualmente ou em grupos, desfrutando do prazer de sentar à calçada. As pessoas, geralmente vizinhos, naturalmente aproveitam aquela hora do dia para colocar os assuntos em ordem interagindo umas com as outras.

É de praxe as pessoas sentarem à calçada especialmente à noite para se refrescarem com a brisa. O leitor, que está percorrendo este texto, certamente já ouviu a emblemática expressão: “vou me sentar na calçada para esperar o Aracati”. Com isso, o morador está dizendo que vai aguardar o vento que, segundo a lenda, parte de Aracati, região litorânea do Estado, onde deságua o Rio Jaguaribe percorrendo o leito do rio passando por todas as cidades que o margeiam até chegar às suas nascentes. Ao passar pelas cidades que margeiam o rio, o vento massageia o rosto dos moradores.

Na Rua 15 de novembro, as amigas mulheres se encontram no fim de tarde para conversar sentadas na calçada

Ponto de encontro

Percorrendo a cidade ainda é possível identificar algumas ruas em que é possível também ver as pessoas naturalmente usando esta prática. 07 de setembro, 21 de abril, 13 de maio, 15 de novembro, José de Alencar. Foi na Rua 15 de novembro, à altura do número 450, onde a reportagem encontrou as amigas Socorro Mendonça, Maria da Penha Leal e Noélia Nogueira. A elas a reportagem perguntou: “O que as senhoras conversam quando estão à calçada? Noélia saiu à frente: “Falamos tudo, mas principalmente os assuntos atualizados, de nossa vida, família ou de nós mesmas”, afirmou. Pode até rolar um crochê para ajudar passar o tempo, mas assunto é o que não falta. O ponto de encontro das amigas é na calçada da dona Socorro Mendonça. Elas são vizinhas e sentar à calçada no fim de tarde já faz parte da rotina.

Em outro trecho da Rua 15 de Novembro a tradição de sentar na calçada tem até nome, ‘Calçada das Vizinhas’

Na mesma 15 de novembro a reportagem identificou outro grupo que mantém a tradição. Este é liderado pela dona Lucimar, mas dele fazem parte Hortenice, Francisca Cazé, Graça, Terezinha e Luiza. Para elas, sentar à calçada à tardezinha é como completar o dia. Lucimar, moradora do local há mais de 60 anos, (à altura do número 204), com a ajuda das vizinhas já batizou até o trecho como “Calçada das Vizinhas”. Indagada sobre o que conversam, emendou: “Assuntos de nossa saúde, nosso dia-a-dia, nossas famílias, enfim, coisas do nosso cotidiano”, garantiu ela. Na concepção da vizinha Hortonice, “sentar na calçada na companhia das amigas de longos anos é tão prazeroso que já faz parte da rotina”.

É como a rotina do sapateiro aposentado Antônio Gomes de Souza. Quase um noventão, seu Antônio gosta de sentar à calçada, na Rua 13 de maio, para apreciar o fim de tarde, interagir com as pessoas e contar suas histórias. Lúcido e com tanta experiência de vida guardada, o aposentado usufrui da companhia da filha Neide, dos demais familiares e o que não falta é gente que adora ouvir seus relatos de uma vida inteira.

Na Rua Adil Mendonça, já se aproximando da antiga (Rua do Cruzeiro), uma família cultiva o hábito de sentar à calçada. E não é só ela, são vários grupos que aproveitam a sombra e a brisa e se aconchegam para conversar, contar histórias e se atualizar dos acontecimentos. A matriarca da família é dona Hilda, quase noventona também, mãe da Sandra, que é imã da Zuleide, que é esposa do Antônio.

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