“Estes sim são os falsos moedeiros da língua e contrabandistas do idioma português.”
(Mário Barreto)
Valham-me Deus e Nossa Senhora! Não há mais limites para os crimes contra a língua portuguesa. Eis no subtítulo as recentes aberrações idiomáticas veiculadas pelos ignaros destruidores do bom vernáculo. São erros graves, vulgarismos inconcebíveis.
Não são condenáveis tais bastardos pretéritos perfeitos porque geram verbos de substantivos. Laudável e correta no vernáculo é a derivação deverbal regressiva. Verbi gratia:os substantivos “luta” e “busca” formaram os verbos de primeira conjugação “lutar” e “buscar”. Legítimo processo.
O gravíssimo erro das formações verbais com nomes de dias da semana está na bizarrice da ocorrência. São criações que cheiram a vulgarismo, à gíria, ao patético e pobre falar coloquial. Perigoso, grosso modo, sempre é o neologismo. Só será aceitável quando vier de fonte latina idônea. Se oriundo, como em tais casos, da grosseira fala das massas ignaras deve ser banido da língua e tido como erro de português.
Ademais, há também um grave erro sintático. A forma verbal em um nocivo pretérito perfeito configura-se totalmente descabida e solta em termos lógico-sintáticos. Quem “sextou” (sic)? Indagamos. Não há respostas porque não há nexo de sentido nem sujeito. É mais uma ferida no já frágil idioma conspurcado aqui no Brasil!
Não cogitemos como atenuante – seria demasiada tolice! – que tal forma absurda seria uma oração sem sujeito. Como em: “chove!”. Totalmente diversos são o sentido e a forma. O estudo diacrônico da língua (o único verdadeiro e válido) nos revela que construções como: “it’s raining” (inglês) e “il pleut” (francês) evocam resquícios de um Jupiter Pluvius (Júpiter Plúvio) latino que era o sujeito agente do verbo chover. Os pronomes “it” e “il” o representariam como uma flexão regular do verbo em terceira pessoa do singular. Não seriam então orações com sujeito inexistente. Ou seja, quando chove, Júpiter é que chove. Mas quando “sexta” (sic) não há nenhum agente para tal fato. A não ser um degradante erro de português.
Não mais blasfememos, bom leitor, contra a sexta-feira e contra o sábado. Tomemos um bom uísque e amemos o puro vernáculo de Camões.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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