Entre uma panela de pipoca, doce ou salgada, ‘João Pipoqueiro’ vai levando a vida. Não é a profissão que escolheu, mas a profissão que escolheu ele. Aquele senhor de estatura baixa, 1,60m, cor morena, barba e olhos arregalados é quem faz a alegria de crianças e adultos, quando está estourando a pipoca quentinha e cheirosa, naquele mesmo endereço da Praça da Matriz.
Filho natural da cidade de Crato, no Cariri, o senhor João Araújo de Lima, 72, reside em Iguatu há mais de 60 anos. Para ele, Iguatu é sua terra natal. Mas nunca recebeu título de cidadão iguatuense. Ele também não liga para isso. Pouco importa se recebeu ou não, titularidade de algum político. Para ele, o importante é a vida que construiu e as amizades que fez ao longo dos anos residindo na cidade.
Seu João ainda não parou de trabalhar porque, para ele, o trabalho também é uma forma de mantê-lo ativo, sem atrofiar. Além disso, o dinheiro que apura da venda do produto ainda ajuda as despesas de casa. Há 44 anos está casado com a acopiarense Maria Nilza de Almeida Lima, 82. Do casamento só nasceu uma filha, Antônia Rejane de Lima, profissional da área da ‘Educação’, o tesouro da vida do casal, que reside no bairro Areias. Rejane, por amor ao pai, e zelo pela profissão com que ele, através do seu trabalhou, criou-a e educou-a nas melhores escolas, sempre que tinha folga viajava para as cidades onde o pai estava para ajudá-lo a vender pipoca. “Eu estava lá naquele sufoco, de repente ele chegava para me ajudar, aí melhorava tudo, porque sozinho era difícil dar conta, festa grande, muita gente, mas ele me ajudava muito”, recorda.
Negão da pipoca
Apesar dos problemas com a labirintite e um princípio de Alzheimer, doenças diagnosticadas recentemente, que causam preocupação para a esposa e a filha, João Pipoqueiro não se entrega. Diariamente se desloca de casa, no bairro Areias, para a Praça da Matriz, onde costumeiramente, no mesmo ponto, atende sua clientela, a maioria crianças.
Mas nem só de pipoca seu João viveu. Ele já rodou o mundo, já trabalhou na construção civil, visitou outros estados brasileiros. Ao retornar para Iguatu, adotou a vida de pipoqueiro e adora fazer um ‘bico’, produzindo e vendendo o produto. Antes da idade avançar, cumpria jornadas duplas de trabalho, durante o dia na construção civil e à noite no carrinho de pipoca. Com tantos anos na profissão, ganhou outro apelido: ‘Negão da pipoca’.
40 anos de atividade
Antes de ser afetado pelos problemas de saúde, João Pipoqueiro era presença garantida nos festejos regionais, festas de padroeira, vaquejadas, eventos políticos, infantis. Ele revelou que viajava para as cidades da região para as festas populares, para vender seu produto. O carrinho de pipoca, companheiro de uma vida, viajava desmontado no bagageiro dos ônibus. Quixeramobim, Catarina, Acopiara, Icó, Orós, Várzea Alegre, Cedro, Jucás, Cariús eram os destinos mais comuns. Hoje ele não viaja mais por causa da labirintite e do princípio de Alzheimer, dos tempos em que percorria todas as festas vendendo sua pipoca só restam as lembranças e a saudade. “Era bom, era divertido, a gente encontrava os amigos ambulantes, barraqueiros, em toda festa eles estavam, a gente terminava uma festa e já combinava de se encontrar na outra”, disse.
Para alguém como ele, na atividade há mais de 40 anos, o tempo deu experiência, notoriedade e conquistou o respeito das pessoas. “Gosto muito quando um cliente que costuma consumir minha pipoca chega e me chama pelo meu nome, isso me dá muita alegria”, contou.
Receita
João Pipoqueiro cuida com carinho do carrinho que sempre lhe rendeu um bom dinheirinho ao longo da labuta. Quando indagado se existe receita pronta para uma boa pipoca, disse que o segredo está na qualidade do milho e na dosagem do fogo. O resto, segundo o experiente pipoqueiro, são os incrementos, a manteiga, o sal, leite condensado e o doce.
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