Pátria Amada Brasil, quem foi que te pariu? Ninguém me diga que foi uma puta que te pariu. Não… não foi. Nasceste de quais entranhas, Terra Adorada? Não consta em tua certidão, mas o teu projeto de nascimento foi diabólico. Inescrupulosos senhores violaram o direito dos povos nativos. E agora estamos nós, povo brasileiro, alguns poucos heroicos, outros agonizando por causa da fome, do vírus, da cegueira embrutecida.
Disse a poetisa Luiza Romão que a colonização do Brasil foi um estupro. Tudo começou pelo ventre da Pátria Amada Brasil, “matas virgens” e “virgens mortas”. Assim, segue um país violentado, golpeado nas mais sombrias de suas noites, sem bosques, sem campos, sem amores.
Minha esperança parece aprisionada no “navio negreiro”, como a lembrar da situação dos negros, dos índios, dos pobres, das mulheres, dos gays, das lésbicas e de tantos que vivem ainda hoje “um sonho dantesco”. Minha esperança falta quando vejo o desatino segurando a mão de uma inocente, como se pudesse por meio dela esconder sua tirania.
Perguntou o poeta: “Que país é esse? É o país das navalhas afiadas, das mentiras descabidas, dos socos arrebatadores, dos sanguinários sedentos. A Pátria Amada sangra, berra e morre “Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação”. Mas, haverá futuro? Para onde marchamos, José? A cada passo a morte nos atocaia, “somos muitos Severinos / iguais em tudo na vida”.
Estamos vivendo um assombro, que pode ainda não ser o pior, mas que muitos já choram como fizeram as “Marias e Clarices no solo do Brasil”. Tudo parou para que a vida continuasse vida. Mas, a morte insiste em manter seu posto aberto. Então, cada um tome sua dor, chore seus lutos e no coração guarde as lembranças do que foi a vida. Oh, vida breve!
Mesmo diante dos horrores, ainda há condição de amar. A angústia, por mais feroz que seja, há de ser suportada. Amemo-nos mesmo no caos, na dor, no horror. Ainda há poesia lá fora. Também sou partícula mínima deste universo e, apesar da minha insignificância, quero libertar minha esperança, para que ela volte a sorrir desde o amanhecer, e possa ser, mesmo que pequena, meu único privilégio, uma arma de amor.
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