Estudantes tentam manter ritmo de estudos para o Enem

16/05/2020

Os candidatos ao Enem de 2020 têm desafio duplo pela frente: estudar os conteúdos das provas, e olha que não são poucos, e sobreviver à Covid-19. O Brasil já estava mergulhado na pandemia que assola o Mundo quando houve o início das inscrições do exame. Os estudantes têm que conviver com a ameaça do inimigo invisível, o coronavírus. Ao mesmo tempo, reclamações também de estudantes brasileiros, inclusive do Nordeste, pela dificuldade de acesso aos conteúdos para estudar. Esses estudantes enfrentam limitações também pela carência de equipamentos de acesso à internet.

O prazo para as inscrições é de 11 a 22 de maio, e a realização das provas presenciais nos dias 1º e 08 de novembro. O Enem continua sendo a aposta para milhões de jovens que desejam ingressar na universidade usando o sistema público de ensino.

O Jornal A Praça ouviu os personagens envolvidos diretamente no processo do Enem, como os estudantes, professores e psicólogo, sobre a fase mais inusitada do Exame Nacional do Ensino Médio, cujas provas serão realizadas em dois dias. O que dizem os estudantes, o que orientam os professores, o que diz a psicologia?

Futuro e sobrevivência

O período de preparação, a agenda de estudos, a escolha da profissão, as dúvidas eventuais, a futura carreira acadêmica, a renúncia da vida social e o lazer para intensificar os estudos preparativos, tudo isto faz a cabeças dos candidatos fervilhar a mil em pensamentos, ideias e conclusões sobre os fatos.

A estudante Luíza Clares de Macedo Neta, 18, que vislumbra a carreira de médica alcançando a vaga através do Enem, revelou o que permeia seus pensamentos diante do cenário atual. “Além de provas para decidir o futuro, ainda tem a prova de sobreviver durante esse período. O dano que a pandemia está trazendo, não só para mim, como para muitos, é gigantesco… seja dano nos estudos, dano no psicológico”.

Luiza Neta já decidiu o que quer: vai prestar vestibular em agosto na Urca mirando uma vaga para Enfermagem e pelo ENEM espera conquistar a vaga para Medicina. Ela concluiu o ensino médio no colégio Liceu. Ultimamente estava fazendo cursinho preparatório no Fênix.

Rebeca Dias Gurgel, aluna do 3º ano médio da Escola Modelo, sonha com o curso de Farmácia pela UFC-Universidade Federal do Ceará. Mas não é só a graduação, ela sonha voos mais longínquos; quer especialização em Perícia Forense. Para chegar aonde almeja, o caminho mais acessível para a estudante de 17 anos, nascida no distrito de São Pedro, em Jucás, é pelo Enem. Rebeca está tão focada na carreira que pretende seguir, que até admite fazer tudo de novo, se a vaga não vier agora. Indagada se tem um plano B, ela foi taxativa: “Não. Se não passar, acho que o único caminho, para mim, será tentar novamente”, disse.

Entusiasmo e existência

Já o estudante de outra escola pública, Policarpo Barbosa Vieira, 17, da escola profissionalizante Lucas Emanuel, do bairro Vila Neuma, está com um curso na cabeça e duas cartas, uma em cada manga. Psicologia, Geografia ou Biologia, num desses três cursos ele deseja ingressar. O estudante demonstra entusiasmo e afirma que a escola e os professores têm tido um papel fundamental, na fase de preparação, apesar das adaptações com as aulas on-line

  Mas também há quem diga que as aulas presenciais continuam fazendo muita falta. É o que afirma a estudante, Glêsianne Aguiar Leite, 20, aluna do 3º ano ensino médio do colégio Adauto Bezerra. Ela mira o Enem para ingressar em dois cursos considerados difíceis: Astrofísica e Física. Glêsianne afirma que sempre gostou muito de cálculos e ingressar num desses cursos é um sonho: “Quero entender o porquê de coisas da existência, nunca explicadas por pessoas”, frisou.

 “Tem sido difícil. Longe dos amigos e dos professores que nos ajudam, tudo acaba sendo mais complicado, até mesmo a nossa saúde mental é prejudicada. Além da pressão de prestar um vestibular, a preocupação com a nossa saúde em relação ao vírus e o distanciamento social, isso acaba influenciando muito na nossa rotina de estudos e no nosso desempenho como pré-vestibulandos. A minha escola, em particular, tem disponibilizado aulas on-line, o que tem ajudado muito. Ademais uso o YouTube para complementar e o que já tem nos meus livros, assim vou me virando caso surja alguma dúvida. Mas afirmo que as aulas presenciais fazem muita falta, sim. Nada se compara a aulas na escola, com os professores em sala tirando nossas dúvidas e nos ajudando, sem contar com o acompanhamento da escola que nos anima durante nossa rotina de estudo e não nos deixa esmorecer ou desistir do nosso objetivo, que no caso é entrar em uma faculdade”.

Rebeca Dias Gurgel, 17, aluna do 3º ano médio da Escola Modelo de Iguatu, candidata ao curso de Farmácia/UFC

“A fase de preparação para os estudos pro ENEM, no geral, estão favoráveis. Por mais que aulas presenciais sejam insubstituíveis, a escola demonstra grande preocupação com essa ausência. O papel da escola tem sido muito importante para o fornecimento de aulas por transmissão, além das aulas oferecidas pela SEDUC e muitas outras instituições de ensino, fora que os professores estão tendo que se adaptar cada vez mais com as aulas on-line. Durante a pandemia, alguns cursos foram oferecidos em várias plataformas de graça, então, eu tenho aproveitado bastante pra estudar e adquirir experiências acadêmicas, mapas mentais, resumos, aulas que os professores gravam tanto on-line quanto em vídeos pré-gravados. Apesar de todo esse esforço, sabemos que o Brasil em si é um país de população pobre, sem acesso às aulas on-line, além de possuir muitos estudantes com problemas de aprendizagem ou deficiência em algumas matérias, principalmente português e matemática, e com isso as aulas online prejudicam tanto a aprendizagem do indivíduo quanto os resultados do ENEM, sendo as aulas presenciais muito mais eficazes que a Educação a distância. Pretendo conquistar vagas para cursos como Psicologia, Geografia ou Biologia”.

Policarpo Barbosa Vieira, 17, aluno do 3º ano, curso Técnico em Finanças, da E.E.P Lucas Emmanuel Lima Pinheiro, candidato aos cursos: Biologia, Psicologia e Geografia

“É bem verdade que o mundo está mergulhado numa pandemia histórica. Mas precisamos lutar com o intuito de conseguirmos nos preparar para o Enem. Como estou fazendo isso? Através de aulas on-line, preparatórias na plataforma do Youtube. Tenho recorrido também aos conteúdos dos livros. Mas devo lembrar de algo que mais percebo nesta fase de ‘quarentena e isolamento social’, que são as aulas presenciais. Lembro que fazem falta, porque as aulas presenciais dão muito suporte aos estudantes e minha meta é conseguir tirar uma boa nota no Enem, para alcançar dois cursos que almejo: Astrofísica ou Física. Me vejo vocacionada para essas áreas. Sempre gostei muito de cálculos, sempre me interessei para saber o porquê que tudo acontece. A física e a ciência explicam coisas que ao ver de outras pessoas são inexplicáveis”.

Glêsianne Aguiar Leite, 20, aluna do 3º ano médio do colégio Adauto Bezerra, candidata aos cursos: Física e Astrofísica

 “Nós professores da rede pública estadual de ensino estamos nos adaptando a essa nova realidade, trabalhando com atividades domiciliares enviadas através dos meios digitais, a fim de fazer com que os nossos alunos não percam o vínculo com a escola, continuem aprendendo e sintam-se capazes de fazer a prova do ENEM. Diariamente, estamos em contato com nossos alunos através de salas aula virtuais, como o Google Classroom, vídeo conferências, vídeos do Youtube, resolução de atividades do livro didático, podcast e atendimentos via redes sociais. Porém, sabemos que esta forma de ensino acaba sendo limitada em comparação com o ensino presencial, devido à falta de acesso a uma internet de qualidade e a aparelhos celulares que, muitas vezes, não suportam receber uma grande quantidade de dados, somado a isso, a mudança brusca do ensino presencial para o ensino domiciliar. Temos convicção que estamos oferecendo o melhor possível, diante da suspensão das aulas presenciais. E em relação a preparação do ENEM, os alunos de classes sociais menos favorecidas, acabam sendo os mais prejudicados na preparação para o ENEM.

Antônio Geimyson de Melo – Professor de Inglês, coordenador escolar na EEM Governador Adauto Bezerra

“Os tempos que se apresentam são cheios de desafios, dificuldades e incertezas, nessas horas é preciso que nossos estudantes nos mostrem o quão grande eles podem ser, e tenho certeza que podem. As chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) tornam-se fundamentais para que professores e estudantes possam manter o tão necessário vínculo em nome do aprendizado. Seria um ledo engano afirmar que a aula on-line substitui completamente a aula presencial, porém, posso afirmar que o processo de reinvenção das ferramentas didáticas tem se mostrado surpreendentemente positivo. O fato de que a aula on-line demanda uma maior responsabilidade por parte de nossos estudantes é um ponto importante dessa questão, o aluno deve estar em sintonia com a organização de seus horários de estudos, a separação do devido material e com a dedicação a assistir de forma integral as aulas virtuais. O papel da família em apoiar e cobrar na medida certa é outro fator que merece destaque nesse processo, pais e responsáveis tornam-se peça ainda mais fundamental no alcance do aprendizado via internet. A ansiedade natural com a aproximação do ENEM, as mais diversas preocupações do dia-a-dia adolescente e as dúvidas advindas desse período de isolamento social, fazem com que outro problema deva ser efetivamente combatido: a procrastinação, o famoso ato de deixar para depois, pode se tornar o maior inimigo de nossos estudantes em tempos Covid-19. Diante disso percebe-se que a tríade: escola, família e aluno deve agir de forma integrada, procurando soluções diárias para possíveis problemas que possam ocorrer. O mais importante é compreender que a educação de nossos dias conta com inúmeras ferramentas que fazem, mesmo à distância, com que o processo de aprendizado consiga efetivar-se.”

Igor Alves, professor, geógrafo formado pela Universidade Estadual do Ceará, Especialista em Ensino de Geografia pela Universidade Cândido Mendes, Mestre em Ética e Gestão Escolar pelas Faculdades EST-RS

Fator psicológico

Neste contexto o fator mais preocupante é o psicológico. Os estudantes tiveram as aulas presenciais suspensas e agora estão reclusos em casa. Eles trocaram o contato diário com professores, colegas de classe e a rotina de estudos, pelo isolamento social. Agora, a rotina de estudos é solitária e limitada ao ambiente de casa. Isso tem um peso que poderá afetar, principalmente, o lado emocional dos estudantes. Indiretamente, pode gerar prejuízos no rendimento das provas.

 “No momento de pandemia que afeta o mundo, somos convidados a colocarmos em prática todas as nossas habilidades, nossos aprendizados e um dos principais dentro de todos: as nossas emoções. Tudo que vivenciamos, realizamos depende em parte de nosso fator emocional e o momento atual de isolamento social, desenvolver tais habilidades e essencial para nossa saúde mental. O Enem está bem próximo e nossos jovens necessitam estudar, estar preparados para essa etapa tão importante em suas vidas e com uma nova dimensão do aprender, ressignificar essa aprendizagem, reaprender a aprender. Mas como? Frente aos novos desafios manter a calma e seguir as regras de isolamento é importantíssimo. Realizar exercícios de relaxamento para reduzir a ansiedade, organizar mapas de estudos com intervalos a cada 45 minutos, produzir murais para trabalhar a memória mnemônica, destacar palavras, frases, parágrafos com cores diferentes para registrar melhor o conteúdo. Outro exercício importante é a utilização de jogos antes de iniciar os estudos dos conteúdos – jogo de memória, dama, sete erros, corta botões, dentre outros, ajudam na estimulação da memória de trabalho. Todas as técnicas sugeridas podem ajudar no processo de aprendizagem desde que possamos manter nossas emoções equilibradas no novo cenário mundial”

Damiana Ferreira da Silva Alves, Pedagoga, Psicopedagoga, especialista em Saúde Mental, Neuroeducacao, Educação Especial e Terapia ABA em crianças com Autismo

“Escolas de todo o Brasil encontram-se fechadas e tiveram as aulas presenciais suspensas devido ao avanço da pandemia do novo coronavírus, fator que tem causado ansiedade a muitos estudantes que estão em fase preparatória para o Exame Nacional de Ensino Médio – Enem, e que precisaram se reorganizar para manter a frequência dos estudos e não perder o ritmo de preparação para as provas. Manter a produtividade dentro de casa tem sido um desafio para quem vai fazer o ENEM esse ano. Esse reordenamento na rotina vem acompanhado de vantagens e desvantagens. Podemos pontuar como vantagem a possibilidade de o estudante poder montar sua própria rotina de estudos, e focar nas matérias que tem mais dificuldades. Já as desvantagens estão relacionadas as diversas possibilidades de distração, e as dificuldades para sanar dúvidas durante o período de estudo. É importante buscar nos manter tranquilos, pois isso reflete diretamente na produtividade dos estudo. O estudante também deve aproveitar esse período para descasar e dormir melhor, o que é fundamental para preservar memórias e absorver os conteúdos estudados”.

Ana Emília Amaro Magalhães, Psicóloga CRP 11/09547

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