Isolamento social não é respeitado durante a pandemia

23/05/2020

Desrespeito, descaso, absurdo! Três palavras duras para definir o cenário do isolamento social em Iguatu. Apesar de os decretos estarem em vigor, não há cumprimento das medidas exigidas. O que há de fato é somente o fechamento do quadrilátero, determinado pela Prefeitura, do centro comercial e nos distritos da zona rural. Nos bairros da periferia, está distante o cumprimento do que está no decreto: “estabelecimentos comerciais fechados e moradores dentro de casa”.

O último decreto assinado pelo prefeito Ednaldo Lavor em 21 de abril, ainda em vigor, prevê cobrança de multa no valor de R$ 200,00 para quem for apanhado perambulando e não justificar sua presença na rua, e também determina o uso obrigatório de máscaras de proteção individual.

A vendedora de bilhetes, Rejane e a vizinha dela, Sara Barbosa, moradoras da Vila Centenário usam máscara individual e respeitam a ‘quarentena’ – Foto J Guedes

A quarta-feira, 20, foi um dia histórico para a maior crise epidêmica da humanidade. No Brasil, o número de infectados se aproximou de 300 mil e o de mortos de 19 mil. Ontem, sexta-feira, 22, o país alcançou a estatística sombria de 20.047 mortos. Na quarta-feira, 20, foi considerado o dia dos ‘mil mortos’, porque o país registrou os números de 1.179 mortos pela Covid-19 num único dia. Foi também o aniversário de dois meses da assinatura do primeiro decreto com restrições à circulação de pessoas, assinado pelo governador Camilo Santana, em 20 de março. No final do dia, o governador renovou o decreto até o final deste mês de maio.

Nesta sexta-feira, 22, a OMS-Organização Mundial da Saúde declarou que a América do Sul atualmente é o epicentro da pandemia, sendo que o Brasil é o país com o maior número de infectados e óbitos.

Nos bairros

Nos bairros, a população parece ignorar os decretos assinados pelo governador do Estado e o prefeito do município determinando distanciamento mínimo de dois metros entre as pessoas, uso de máscaras individuais de proteção e estabelecimentos comerciais de portas cerradas. É um grande contraste entre duas realidades distintas, quando existe uma legislação em vigor para ser cumprida e somente uma pequena parte cumpre, enquanto a grande maioria desrespeita.

No quadrilátero compreendido entre as ruas 13 de maio, 15 de novembro, Santos Dumont e José de Alencar, as lojas estão fechadas por força do último decreto lançado, mas a poucos metros dessa demarcação o descaso é gritante. Pessoas circulam livremente, há intenso fluxo de veículos e aglomerado aleatório de transeuntes por toda parte.

A reportagem percorreu alguns bairros para constatar a veracidade das denúncias que chegaram à redação do jornal. Nos bairros Jardim Oásis e Lagoa Park, as pessoas ignoram completamente os decretos e permanecem na rua. No Lagoa Park, o pedreiro José Pedro de Lima, 69, afirmou que está há dois meses isolado em casa. Ele é diabético, hipertenso e faz parte do grupo de risco à Covid-2019. Mas o homem denunciou que falta conscientização por parte dos moradores, porque muita gente, alguns até sem o uso da máscara estão circulando pelas ruas aleatoriamente.

O pedreiro aposentado José Pedro da Silva, 60, diabético e hipertenso disse que respeita o decreto e há dois meses está isolado dentro de casa – Foto J Guedes

No Jardim Oásis, a reportagem abordou dois homens que estavam sentados na praça, sem usar máscaras. Um deles faz parte do grupo de risco. Cícero Manoel Ventura, 58, e Assis Belo, 70, pedreiro aposentado. Ambos indagados porque estavam ali e não dentro de casa, eles justificaram que “não é possível ficar o tempo todo, por isso saem de vez em quando para a rua”. A moradora Margarida Fernandes, 53, auxiliar de produção, denunciou que ninguém está respeitando lei nenhuma. “A polícia aparece, aí eles correm, entram em casa, mas quando a viatura sai, eles voltam pra rua. Não tem jeito”, disse.

É o que ocorre na Vila Centenário, segundo relatou a vendedora de bilhetes de loteria Antônia Rejane, 31. “Aqui, temos notícia de gente doente, já morreu morador dessa doença, mas as pessoas não estão nem aí”, ressaltou. Sara Barbosa, 38, vizinha de Rejane, cobrou mais fiscalização por parte do poder público. “A toda hora o desrespeito é grande aqui. Eu estou dentro de casa, com meu esposo e meus filhos, só saímos para o extremamente necessário, mas a gente vê gente desnecessariamente na rua a toda hora”, afirmou. Os absurdos se repetem nos bairros, Chapadinha, Cajazeiras, João Paulo II, Vila DAER, Vila Neuma e Vila Moura.

Se existe um vírus circulando pela cidade, infectando e matando sem escolher a quem, agindo como as pessoas estão aumentando potencialmente as chances de o inimigo continuar vivo, infectando e matando. Matemática simples: quanto mais gente circulando, mais chances do transporte do vírus de um grupo a outro.

Calado como resposta

A reportagem procurou a administração para se posicionar sobre as reclamações e denúncias do descumprimento do ‘isolamento social’, mas as mensagens não foram respondidas.

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