A reboque da pandemia do coronavírus veio a discussão de como as pessoas devem higienizar com maior frequência, o corpo, principalmente o rosto e mãos. Mas os excessos com o uso de produtos como o álcool em gel, álcool etílico e até mesmo os cosméticos podem deixar marcas na pele e causar danos ou doenças graves. Para esclarecer mais sobre este tema, nesta edição do A Praça o leitor acompanha entrevista com o médico Valdizar Granjeiro, especialista em Dermatologia, pelo Centro de Dermatologia Dona Libânia (Fortaleza/CE), e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia
A Praça – O pós-pandemia poderá trazer uma explosão de casos de doenças de pele, por causa do uso indiscriminado de produtos para higienização?
Dr. Valdizar – Sim. O uso muito frequente ou excessivo de produtos para limpar a pele pode se tornar muito prejudicial para pele e unhas.
A Praça – O uso aleatório de álcool em gel, álcool etílico e outros produtos de higienização pode representar que tipo de risco para a saúde da pele?
Dr. Valdizar – Esse uso aleatório e exagerado pode trazer ressecamento e eczemas (alérgico ou por irritação) além de infecções, pois remove a barreira cutânea de lipídeos, que é uma defesa natural da pele contra bactérias, fungos e vírus perigosos.
A Praça – Quais são as doenças que podem atacar a pele, com o uso excessivo de álcool, sabão e outros líquidos usados para higienização?
Dr. Valdizar – Dermatite de contato (alérgica e por irritante primário), eczema disidrótico, piora da dermatite atópica, herpes, molusco, verrugas, micoses, paroníquia, piodermites e queimaduras, entre outras.
A Praça – O uso excessivo desses produtos pode afetar as unhas? Que danos à saúde das unhas podem ser causados?
Dr. Valdizar – Pode causar ressecamento e fragilização da unha, onicomicose, paroníquia, verrugas periungueais e ‘frieira’.
A Praça – Que cuidados devem ser adotados na hora de escolher e comprar os produtos para usar na pele? As pessoas ainda pecam muito na hora de conferir a data de validade?
Dr. Valdizar – É importante sempre consultar um profissional da sua confiança para que indique o melhor tratamento para a sua necessidade do momento e adquirir produtos em estabelecimentos habilitados e autorizados a comercializar os produtos de higiene e de beleza. Produtos devem estar registrados na Anvisa e estar bem conservados, dentro do prazo de validade.
A Praça – As pessoas ainda pecam muito na hora de conferir a data de validade dos produtos? E a automedicação, as pessoas recorrem à automedicação para tratar problemas na pele? Como evitar a automedicação?
Dr. Valdizar – Às vezes o prazo de validade não está bem claro na embalagem (e isso deve ser cobrado do vendedor) e nem sempre as pessoas atentam para esse aspecto, que é importante. A automedicação, infelizmente, ainda é muito comum e representa um grande risco pois pode mascarar problemas graves (como câncer de pele e infecções graves) que deveriam ser prontamente e corretamente resolvidos pelo profissional competente. É necessário que se dê prioridade máxima à saúde. Automedicar-se muitas vezes significa optar pelo barato que acaba custando muito caro.
A Praça – Que cuidados devem ser adotados em relação ao uso da máscara para evitar alergias, desconforto ou contaminação que possam afetar a pele do rosto? Que tipo de de material é mais adequado ? e o tempo de uso incluindo a lavagem?
Valdizar Granjeiro – É recomendável o uso da máscara cirúrgica ou de tecido de algodão que fique confortável no rosto. (uma costureira pode fazer sob medida para a pessoa que vai usar.). A máscara é de uso individual. Nunca deve ser compartilhada com outra pessoa. Pode ser lavada com água e sabão, ou esterilizada em banho-maria por dez minutos diariamente, para ser reutilizada. Me refiro as máscaras de tecido. As descartáveis, após o uso devem ser acondicionadas em sacolas e depositadas em local seguro para prevenir contaminações. O uso deve ser contínuo, pelo maior tempo possível, principalmente se estiver perto de outras pessoas ou com sintomas de gripe ( tosse e espirro) . Nunca compartilhe objetos de uso pessoal. Ao tossir ou espirrar, proteja boca e nariz com lenço de papel ou com o braço (nunca com as mãos). Mais informações no aplicativo Coronavírus Sus.
A Praça – Quais os riscos para a saúde da pele, em relação ao uso dos produtos de higiene, ou estéticos, falsificados?
Dr. Valdizar – Há o risco de queimadura, intoxicação e eczemas.
A Praça – Qual a influência dos alimentos para uma boa saúde da pele? Que alimentos podem cooperar para uma pele saudável?
Dr. Valdizar – Uma alimentação equilibrada é essencial para manutenção e recuperação da saúde de todo o corpo, inclusive para ter uma pele bonita e sadia. Uma boa ingesta de nutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras) nas proporções corretas, além de vitaminas e minerais é fundamental para a saúde da pele, cabelos e unhas. Recomenda-se uma alimentação rica e diversificada com carnes, peixes, frango, ovos, frutas (uva, mamão, abacate, laranja etc.), amêndoas (castanhas, avelã, amendoim etc.), azeite de oliva, verduras, legumes e cereais. Lembrar também que é importantíssimo ter um bom consumo de água (ao menos 2,5l /dia para um adulto, exceto em algumas condições especiais quando for recomendado volume menor, pelo seu médico). Sempre que possível, eu recomendo uma consulta com o nutricionista. Ter um bom descanso (8 horas de sono ou mais a cada dia), manter saúde mental equilibrada, evitar televisão e uso excessivo de celular, ter atividade física regular, praticar técnicas de meditação, e evitar álcool e cigarro. Felicidade, gratidão e oração também fazem bem. A pele precisa de um conjunto de fatores para se manter sadia e bonita.
Perfil
Valdizar Granjeiro é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco- UFPE; fez Residência Médica em Dermatologia no Centro de Dermatologia Dona Libania-Fortaleza/CE; e é Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia- SB
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