Aos poucos, sem constituir surpresa nem mesmo para seus eleitores mais entusiastas, vai por terra a farsa de Jair Bolsonaro e sua gangue. A prisão do amigo íntimo e ex-assessor direto Fabrício Queiroz, nesta quinta-feira, 18, em Atibaia – SP, para além de significar um avanço no inquérito que visa a esclarecer o caso das rachadinhas no gabinete do então deputado estadual e atual senador pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, filho do presidente, pode descortinar crimes ainda mais graves.
No bojo de práticas ilícitas arroladas pelo inquérito, é bom não esquecer, pesam contra integrantes da primeira família, Jair Messias Bolsonaro à frente, envolvimento com pessoas associadas a práticas criminosas das milícias cariocas, entre essas, e nunca desvendado, o assassinato de Marielle Franco e seu motorista há mais de dois anos. Quem mandou matar Marielle Franco?
Espera-se, a partir da prisão de Queiroz, que outras investigações venham a ser destravadas, algumas delas mais diretamente ligadas ao próprio Jair Bolsonaro: o caso de Nathália Queiroz, filha de Fabrício, ancorando a contratação de um sem-número de funcionários fantasmas no gabinete do então deputado Jair Bolsonaro, na Câmara, e o nunca explicado caso da folclórica figura de Wal do Açaí, para mencionar dois deles, sequer saíram da fase inicial.
A sugerir que a situação tende a se agravar, no entanto, colocando o presidente cada vez mais numa corda-bamba, na esteira dos elementos que apontam objetivamente para a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, no inquérito das fake-news, agora legitimado pelo STF, e para o impeachment, por muitos crimes de responsabilidade, era indisfarçável o abatimento físico e psicológico do presidente por ocasião do comunicado de afastamento do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, ontem, em Brasília.
Tudo isso, é importante frisar, ocorre em meio à trágica situação do país em decorrência da pandemia do coronavírus e de uma crise econômica sem precedentes em sua história recente.
Aos poucos, sem constituir surpresa nem mesmo para seus eleitores mais entusiastas, insisto, desmoronam como bolas de sorvete ao sol (recuso-me a lançar mão de uma metáfora pior), e sem o sabor desta, o egoísmo, a desfaçatez e o cinismo que estiveram por trás das motivações de uma parcela significativa dos 57 milhões de brasileiros que elegeram um farsante pelo simples fato de querer o Partido dos Trabalhadores fora do Poder — e vislumbrar nisso, por óbvio, o caminho mais curto para ampliar o universo histórico de seus privilégios e de suas prerrogativas inconfessáveis.
O desfecho, tudo está a dizer, haverá de devolver aos demais brasileiros um pouco da dignidade que lhes foi roubada.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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