Pandemia, pequenos negócios e mulheres que não têm medo de empreender

04/07/2020

As mulheres que estão empreendendo, administrando seus próprios negócios, são protagonistas de si mesmas. Elas são ousadas, corajosas e criativas. Mulheres que não têm medo de buscar espaço no mercado e estão lutando para se firmarem como microempresárias.

De perfis e histórias de vida distintas, elas são esposas, mães, protetoras, vaidosas, amorosas, carinhosas, e com forte tendência para o segmento dos negócios. Cada uma, fazendo o que sabe, está trabalhando para, ao mesmo tempo conquistar sua fatia de clientes no mercado. Essas empreendedoras por natureza necessitam de suporte socioeconômico, pois, tão relevante quanto ter a ideia e alimentar a força do começo, é importante que o empreendimento seja de longo alcance e não se perca em meio aos entraves da burocracia e da pesada carga fiscal.

As mulheres empreendedoras que se apresentam na edição do A Praça de hoje renunciaram ao emprego formal ou estão tentando conciliar jornadas de trabalho, entre emprego e empreendimento, até que tenham segurança e consigam tocar seus empreendimentos, podendo dedicar tempo integral. Até lá, serão movidas pelas expectativas e as emoções de cada fornada de bolos, cada rodada de torteletes ou pizza, salgados ou doces, cada remessa de entrega e cada cliente novo que vai chegar para engrossar a carteira já existente.

Maria Cecília, Marconiza Soares e Adriana Pereira enxergaram oportunidades nas habilidades que têm numa área específica do mercado gastronômico que é a culinária regional. Elas estão produzindo alimentos para almoço e jantar de finais de semana, lanches, sobremesa e até para os eventos sociais, incluindo os batizados, aniversários e casamentos. Atendem também, e principalmente, na casa do cliente e nas empresas e instituições. Para isto elas usam a poderosa ferramenta das redes sociais, pelo Instagram, Facebook e WhatsApp, para receber os pedidos e organizar as entregas. Por esses canais os pequenos negócios, que estão fazendo a diferença na pandemia, estão conseguindo se sobressair. Além da clientela usar os canais das redes sociais para pedir os pratos, os internautas ainda postam comentários positivos e motivadores sobre os produtos e ainda ajudam a aumentar o número de seguidores dos aplicativos, nas redes.

Apesar de serem mulheres de nomes, sobrenomes e legados diferentes, elas têm uma característica em comum: estão empreendendo porque acreditam. E acreditam principalmente no potencial que guardam com elas. Cada empreendedora tem seus projetos, suas metas, suas ambições, seus ideais, e seguem caminhos distintos e pensamentos opostos, mas todas se igualam quando o tema é coragem de lutar por acreditar que é possível vencer pelos seus próprios méritos.

Delícias da Dricka

  ‘Delícias da Dricka’ foi o nome dado ao empreendimento idealizado pela vendedora Adriana Pereira da Silva, 40, que considera um negócio de família. É com o esposo Emanoel Alves da Silva, 40, que ela administra o pequeno negócio da produção e venda de alimentos prontos (bolos, mousses, doces, picolés) criado recentemente para complementar a renda de casa. Conta também com a cooperação do filho adolescente Elias. É ele quem faz as entregas. Depois que começou a empreender e trabalhar também para ela mesma, Adriana já começou a perceber as mudanças. Isso a faz cada vez mais acreditar que é possível empreender e ter um pequeno negócio, até mesmo dentro de casa. “A oportunidade quem faz é a gente mesmo. Um dia me veio a ideia de lançar esses produtos, as pessoas gostam e, graças a Deus, está dando certo”, ressaltou.

Adriana se desdobra diante do relógio para dar conta dos compromissos de casa, do pequeno negócio e do seu emprego formal. Ela trabalha meio expediente numa loja de vestuário e usa o tempo dos intervalos para preparar os pratos e deixar tudo organizado apenas para o filho entregar. São bolos comuns, bolo de pote, picolés e mousses. Os produtos são preparados na casa da família, na Rua José Caieiras de Araújo, bairro Areias, onde ela reside com o esposo e o filho Elias Roberto, 16.

Com o sucesso dos produtos, nas redes sociais e pelo boca-a-boca da clientela, a demanda produzida está atravessando as fronteiras do bairro e chegando a outras áreas da cidade. Isso vem fazendo aumentar o número de encomendas e ajudando a dar fôlego ao pequeno empreendimento, por enquanto ainda na informalidade, mas que o desejo da idealizadora é oficializar. “Tenho muita vontade de me tornar uma Microempreendedora Individual-MEI e acredito que irei conseguir”, frisou. É meta de Adriana criar uma empresa e até crescer avançando na geração de empregos. Afinal, ela não tem medo dos desafios, nem se acomoda diante dos obstáculos.

O momento para ela e os parceiros no negócio, o esposo e o filho, é de expectativa, por causa da fase econômica que o país está atravessando, mas ela garante que não hesita quando a palavra é trabalho e demonstra muita disposição para continuar lutando pelo fortalecimento do pequeno negócio. Quando não está no emprego formal, lá está ela, em casa, debruçada sobre a bancada da cozinha preparando os bolos, mousses e doces para atender as demandas de clientes.

Para quem atua nesta área da culinária, a opinião do outro é muito significante. Adriana é a prova viva disso. Ela ressaltou que desde o começo, em todo produto que entrega vem sempre um elogio do consumidor, e isso funciona como uma palavra de incentivo. “Comecei a fazer sem saber se iria dar certo, mas a cada entrega vem junto um elogio, e isso me motiva a continuar fazendo”, disse.

Um leque de fatores pode ter cooperado para ela tomar a iniciativa de lançar o empreendimento, mas o que mais pesou foi quando seu esposo perdeu o emprego. A culinária de bom gosto está no DNA desta acopiarense, que há 15 anos desembarcou em Iguatu para morar.

Adriana viveu e aprendeu muita coisa da cozinha regional na convivência com os pais, Antônio Pereira da Silva e Maria do Carmo do Nascimento. O pai dela é o saudoso Tonheiro, comerciante de Acopiara que durante muitos anos foi dono da Churrascaria do Tonheiro, ao lado do Terminal Rodoviário daquela cidade. Ali Adriana cresceu e aprendeu a dominar muitas técnicas da cozinha. Ela só não imaginava que um dia usaria esse aprendizado para administrar seu próprio negócio. Mas é como a própria Adriana faz questão de frisar: “Tudo são os desígnios de Deus em nossas vidas, agradeço a Ele, todos os dias, por cuidar de mim, da minha família e me mostrar que é possível vencer todos os dias, apenas acreditando”, disse.

Os produtos que faz em casa, ela mesma publica nas redes sociais e vende pelo WhatsApp, bolos, sobremesas, bolo no pote, bolos decorados, mousses, picolés e outras guloseimas. “Percebi que não existe dificuldade nenhuma, quando você quer fazer as coisas darem certo”, lembrou.

Serviço

Delícias da Dricka
WhatsApp: 88. 9.8873-8668
Instagram: @deliciasdadrica60

Torteletes da Cecy

Maria Cecília Lima Lavor, 39, é servidora pública concursada. Trabalha na Secretaria Municipal de Trânsito. É dela a criação da ‘Torteletes da Cecy’, produção e comercialização das chamadas empadas com recheio doce. São miniaturas de tortas caseiras confeccionadas artesanalmente com receita especial de farinha de trigo, leite e margarina, que resulta nas empadas, à base de leite condensado e outros recheios adicionados, como chocolate e frutas variadas, limão, maracujá, banana, goiaba e ameixa.

Por ser um produto de sabor misto entre salgado e doce, as torteletes são opções para sobremesa ou como lanche de meio de manhã, tarde ou noite. Vão bem em qualquer uma dessas ocasiões, com bebida quente, chocolate, café, chá, cappuccino, leite, ou as bebidas frias, chá gelado, sucos e até os refrigerantes.

‘Torteletes da Cecy’ é mais um pequeno negócio influenciado pela pandemia que está dando certo e ajudando mais uma família atravessar a fase pandêmica administrando um novo empreendimento surgido em meio à crise sanitária.

Cecilia contou que já fazia as torteletes há mais de quatro anos, sob encomendas, mas nunca havia pensado em atender clientes em maior número, e encarar como um pequeno negócio. Ela só mudou de ideia quando a pandemia chegou e afetou o emprego do seu esposo. Regineldo Medeiros, zagueiro, jogador profissional de futebol, tinha contrato com o Guarani de Sobral, mas com a interrupção das competições esportivas ficou difícil de manter o contrato e até honrar os pagamentos de salários. “Isso impactou na nossa vida, nossa sobrevivência, foi quando eu pensei, vou começar a fazer as torteletes, e iniciamos, graças a Deus, está dando certo, com boa aceitação”, frisou.

Cecília não é daquelas mulheres que se abate com as dificuldades e recua diante dos obstáculos. Ela não gosta de ficar de braços cruzados vendo a vida passar, nem espera que os fluídos negativos dominem a situação. Ela gosta de estar no comando e tem sido assim com seu empreendimento. “Enquanto algumas pessoas acharam que estava tudo perdido, fui à luta tentando fazer diferente e, graças a Deus, vem dando certo”, acrescentou.

Para espalhar a ideia no meio da comunidade, Cecília usa o aplicativo de mensagens WhatsApp e Instagram onde interage, através das imagens dos produtos em grupos de amigos dos quais faz parte. Mas admite que foi a partir da criação do perfil no Instagram que a propagação foi bem maior. Em menos de dois meses que o perfil foi criado pelo filho dela, Paulo Henrique Lavor Bezerra, já são mais de 700 seguidores ganhando uma proporção que nem mesmo ela esperava. “Eu não imaginava que fosse ter tanta repercussão, tanta gente compartilhando, seguindo o perfil e ampliando o grupo de clientes”, lembrou.

O sucesso das Torteletes da Cecilia é tão grande que está virando um hábito na cidade. A clientela formada por pessoas de todas as faixas etárias costuma pedir os doces para lanche ou sobremesa. Cecilia, Regineldo e Paulo Henrique se revezam nas entregas, mas a maioria é a própria Cecília quem faz. Assim ela interage diretamente com os clientes e ouve as opiniões e gostos sobre sabores e recheios. É muito importante, porque é a própria Cecília quem se dedica à preparação das torteletes.

Dependendo da distância é adicionada taxa de R$ 2,00 ou R$ 4,00 para compensar a entrega. Mas Cecília garante que os clientes podem retirar as torteletes no próprio endereço dela, na Av. Adil Mendonça, 355, bairro Santo Antônio. Na preparação dos cobiçados doces, totalmente artesanal, Cecília conta com a cooperação de sua mãe, a senhora Francisca Holanda Lavor Lima.

Toda a parte de criação das peças publicitárias, que são pequenos banners digitais com frases de efeito que são lançados nas redes sociais, e impressos acompanham as embalagens dos produtos, são criações de uma grande amiga de Cecília, a design gráfica Lidian Barbosa.

Serviço
Torteletes da Cecy
WhatsApp: 88. 9.9711-3488
Instagram: @tortoletesdacecy

A Casa de Sabores

Marconiza Souza Soares, 40, é uma cedrense que veio para Iguatu em 2006 em busca de oportunidade. Até bem pouco tempo ela trabalhava como doméstica numa casa de família. Ter seu próprio negócio para fortalecer o orçamento de casa sempre foi um sonho acalentado por ela, que só agora se concretizou, quando a pandemia se instalou. Ela resolveu abrir mão do emprego formal e se arriscar com a produção e comercialização de comida pronta. Com o apoio do esposo Misael e das duas filhas, Amanda e Alana, a ex-doméstica montou um pequeno espaço para venda dos produtos, na garagem do imóvel onde mora com a família, na Rua Lourival Correia Pinho, bairro Cocobó.

‘A Casa de Sabores’, nome dado ao pequeno empreendimento está identificada numa plaquinha de madeira colocada no portão da garagem. O local já virou referência para os moradores do bairro que gostam de saborear doces, bolos, salgados, sobremesas e até os pratos feitos sob encomenda. A ex-doméstica já trabalhava com a preparação de pratos da culinária regional, inclusive atendendo sob encomenda, mas depois que a pandemia chegou ela dedicou mais tempo à sua casa, foi que resolveu encarar o empreendimento como um negócio de fato.

Marconiza usa as redes sociais para postar imagens dos produtos e receber encomendas. É pelo Facebook, Instagram, WhatsApp e até pelo Mercado Livre que ela recebe os pedidos e negocia a venda e entrega dos produtos.

Apaixonada pela arte da culinária, Marconiza afirmou que se realiza na cozinha. “Adoro cozinhar, criar meus pratos, preparar, fazer, é algo que me realizo”, afirmou. Ela já fez um curso da área de Agroindústria pelo IFCE de Iguatu. Foi uma qualificação que ela afirma não se arrepender de ter buscado, pois muitas das técnicas que aprendeu na época usa até hoje. Marconiza lembra inclusive do que aprendeu na área do empreendedorismo, exatamente o que ela está fazendo agora, empreendendo, sendo protagonista de si mesma, construindo seu próprio caminho, no mundo dos negócios.

Quando bota a mão na massa, misturando ingredientes, os mais diversos, entre os doces e salgados, dessas combinações ela tira os bolos mais cobiçados do bairro. Mas não é só isso. Produz pudins, tortas doces e salgadas, vatapá e os salgadinhos (coxinhas, pastéis, canudinhos, enroladinhos recheados e as pizzas) que são preferência da clientela. Nos finais de semana, aos sábados e domingos tem mungunzá, feijoada, panelada, panquecas e lasanha, tudo ao gosto e preferência dos clientes.

Marconiza é o tipo da mulher empreendedora que se adaptou facilmente à nova forma de lidar com os clientes, principalmente por trabalhar tentando conhecer o cliente sabendo o que ele quer. Os sabores, temperos, ingredientes, os tipos de pratos, tudo que ela faz com suas habilidosas mãos, na cozinha, é entendendo o que as pessoas gostam de comer e isso tem sido uma marca de seu pequeno negócio. Assim, ela prepara os pratos sob encomenda. As bandejas de salgados fritos ou no formo para aniversário, casamentos, e outros eventos festivos, e os doces caseiros com sabores à preferência do cliente.

Serviço
A Casa de Sabores
Whattsapp: 88. 9.9416-2650
Instagram: @salgadosmaniaigt

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