Balaio – Ramir
ZUMANOS – Enterros coletivos em valas, com poucas velas. Muitas dores contidas, lágrimas levadas pelo vento. Perplexidade e pressa. Quantas vidas ceifadas bruscamente, histórias arrancadas pela raiz, sonhos violentamente interrompidos. Despedidas proibidas em nome das regras sanitárias. A alma dolente de uma mãe a lamentar, em prantos, não poder ver seu filho, mesmo morto, num caixão, em sua casa, para a sofrida despedida. E tem gente que acha isso tão normal… Afinal, o que eles comemoram com essas bandeiras verde-amarelas, nas mãos, em passeatas pelas ruas? Assim, caminhamos nós humanos, cantando ou silenciosamente, seguindo qualquer canção. Os Sapiens, com seus lados Zumbis, em busca do Apocalipse. Não o de João, mas o do Messias. Não o Cristo, mas o Jair.
IDEIAS – Vives a defender, ardorosamente, tuas ideias? Orgulha-se do teu jeito de ser, conservador, sem vontade ou razões para mudar? Não esqueça, sempre há outras possibilidades: “A consistência é o parque de diversões das mentes entorpecidas”. (YUVAL NOAH HARARI – SAPIENS).
MENSAGEM – Aos que se devotam a explicar os elementos dessa crise, tão grave e tão plural, recomendo não esquecer a bela lição que nosso grande Machado de Assis cita no final do conto A Chinela turca: O melhor drama está no espectador e não no palco. Portanto, donos e donas da verdade, contenham-se.
CORTINA – Você tem lido nessa Quarentena? Já embarcou na mais agradável viagem da vida, sem malas, correrias e atropelos? Parabéns! Essa aventura lhe dará mais do que você espera: “A literatura desencadeia um processo de reflexão que nos ajuda a rasgar a cortina das ideias feitas”. (MILAN KUNDERA).
TENTATIVAS – Estás a reclamar da vida? Há dias em que pensas em desistir? Que tal um lembrete de Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451: “No poente, ganhei ou perdi. No nascente, saio novamente, fazendo a velha tentativa”. Entendeu? Dê outro passo. Não desista!
ESCRITA E ESPIRITUALIDADE – Acredito que essa passagem do belo livro A Louca da Casa, da escritora espanhola Rosa Montero, resume muito bem o alcance da prática de ler e escrever, o que nos torna mais abertos para a vida: “Não estou falando só de livros, e sim de uma maneira de viver e de pensar. Para mim, a escrita é um caminho espiritual. As filosofias orientais preconizam uma coisa parecida: a superação dos limites mesquinhos do egocentrismo, a dissolução do eu na torrente comum dos outros. Só transcendendo a cegueira do individual podemos entrever a substância do mundo”.
Enquanto isso: “No Novo Tempo, apesar dos perigos/ Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta/ Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver…”.
Ramir é apenas um ser errante. Cartas para a redação.
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