Desaparecimento de jovens é marcado por aflição e violência

11/07/2020

Marcas que ficarão registradas na memória de duas famílias no sítio Grossos, zona rural de Iguatu. O dia 07 do mês de julho deve ser lembrado para sempre por aqueles que vivenciaram por quase 24h de muita tensão. A reportagem fez o itinerário do sequestro à libertação das três jovens bem como dos desdobramentos da investigação pelas forças de segurança que promete seguir e ainda esclarecendo o caso por completo.

Sequestro

Gabriela Conceição, 19, sua irmã de 14 e prima de 17, jamais imaginariam que o caminho de volta de uma atividade física seria acompanhado de muito medo e marcas que carregam no corpo. O que parecia ser mais um dia comum na rotina de quem vive em comunidade rural, foi interrompido após uma abordagem a 1,5km de uma de suas casas. Um homem armado com revólver rendeu as jovens. O grito do susto foi ouvido pela mãe das irmãs, porém ela, que desistiu da caminhada momentos antes de acompanhá-las, achou que fosse uma brincadeira.

As forças de segurança prestam esclarecimentos sobre o caso

Elas foram levadas até uma motocicleta e seriam posteriormente levadas a um cativeiro. Mas o veículo acabou sendo abandonado no local e quando encontrado pela polícia serviu como única prova para investigação. Ainda foragido, o raptador planejava conforme a investigação, sequestrar e assassinar Gabriela. Mas diante da presença de mais vítimas em potencial, optou por mudar de planos.

Buscas e fake news

O trabalho de buscas envolveu policiais civis, militares, bombeiros e populares. Policiais do COTAR – Comando Tático Rural estiveram na cidade. Sobrevoos com drones foram utilizados para tentar encontrar as vítimas na localidade. Mais de 20 homens que residem na região ajudaram também na procura.

Com passar da hora e a divulgação das imagens das vítimas nas redes sociais, o caso gerava preocupação às autoridades e familiares. As falsas notícias também deixavam o clima de aflição mais acentuado. Durante o período, informações como o achado de cadáveres e raptos com carros e furgões chegaram a ser propagados pelas redes sociais como informações.

Mentor e motivações

Também de acordo com a Polícia Civil, argumentando ciúmes, o ex-namorado de Gabriele, identificado somente pelo apelido “Pirulito”, contratou o sequestrador para matá-la. As outras duas adolescentes, de 14 e 16 anos, no plano do criminoso, seriam mantidas reféns até que a família pagar resgate de R$ 5 mil. Entretanto, o executor acabou desistindo do planejado e manteve as três vivas.

Conforme adiantou a investigação, o foragido já identificado, pela polícia, levou as jovens sob a mira de uma arma de fogo e percorreu grande parte da região até o local em que elas passaram a noite e madrugada até serem liberadas por volta das 13h da quarta-feira, 08.  “Soubemos que devido a Gabriela ser parecida com a irmã do raptador, ele decidiu por liberarem-nas do cativeiro”, contou Marcos Sandro, Delegado Regional de Iguatu.

“Pirulito” manteve uma relação conturbada com Gabriela que durou até fevereiro deste ano. Desde então ele demostrava não aceitar o término do relacionamento. O suspeito permanece preso e negou em seu depoimento qualquer relação com o caso. Mais dois homens foram detidos na operação, porém suas relações com o crime não foram esclarecidas à imprensa.

A polícia investiga ainda quais violências foram sofridas pelas vítimas. Todas passaram por exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e prestaram depoimentos na Delegacia de Defesa da Mulher, além de serem ouvidas por escuta especializada. “Não descartamos que elas tenham sofrido abusos psicológicos ou sexuais. Entretanto, isso a perícia vai dizer com maior precisão”, pontuou o delegado.

Wendson Alves Freires, 20, vulgo ‘Pirulito’, ex-namorado de Gabriela, foi preso por ser o suposto mandante do crime. A polícia segue em diligências no sentido de prender o homem autor do sequestro.

O sentimento das famílias agora é de alívio e agradecimentos

As marcas de arranhões nas pernas e braços mostram o quanto as três jovens enfrentaram sofrimento e dor durante o percurso que fizeram no meio do mato, quando foram sequestradas na tarde da última, terça-feira, 07, enquanto faziam uma caminhada nas estradas carroçáveis que cortam o sítio Grossos, localidade rural em Iguatu, onde moram.  

Agora ao lado da família, Gabriela Conceição, de 19 anos de idade, mostra-se forte. Foram mais de 12 horas de tensão e medo, sob a mira de uma arma. “Aquele homem surgiu do nada, no meio do mato. Apontou a arma pra gente e mandou nós caminhar por mata a dentro. Eu fui na frente abrindo caminho com as mãos mesmo. Andamos muito. No meio da mata escura, sentimos fome, sede, frio, ferroadas de insetos, até de abelhas. Atravessamos o rio, eu não sei nadar, quase morri afogada. Só o que eu fazia era rezar. Pedi a Deus que nos livrasse daquela situação”, contou a jovem que passou por tudo isso ao lado da irmã de 14 anos e da prima de 17 anos de idade.

Foram momentos de medo e de tensão psicológica. “Depois de um certo tempo, ele não nos ameaçou mais, conversou muito com a gente. Se mostrou arrependido e disse que tinha sido contratado pra me matar. Mas nas primeiras horas do amanhecer ia liberar a gente. Eu não conseguir dormir um segundo. As meninas estavam muito cansadas, tiraram ainda um cochilo. Eu só rezava”, afirmou Gabriela.

Resgate

As vítimas foram encontradas no final da manhã da quarta-feira, 08, no Sítio Caboclo, distante mais de 10 km do local de onde foram sequestradas. “De longe eu vi uma caixa d’água branca. Foi onde mirei e disse que a gente tinha que chegar lá. Conseguimos chega à casa do homem que nos ajudou. A gente ficou na sombra do juazeiro, minha irmã foi pedir água. Ele nos deu água, ofereceu comida. Mas a gente pediu alguma fruta. A gente bebeu muito água. Ele nos reconheceu, ligou para nossa mãe e para a polícia”, acrescentou Gabriela, relembrando o momento do resgate quando foram levadas por policiais para delegacia, onde prestaram depoimento, fizeram exames e também foram para delegacia de proteção e defesa da mulher. “Eu tomei um susto grande, mas ao mesmo tempo um alívio de ver aquelas meninas vivas, mesmo que todas arranhadas, com pernas sangrando. Estávamos todos aflitos. Mas Deus deu essa oportunidade de elas viverem”, disse o agricultor Carlos Eduardo Almeida.

Aflição e alívio

Familiares ainda tentam se recuperar do momento de aflição vivido. “Pra gente é uma graça muita grande. A dor que sentimos foi muito grande, minha filha, minhas duas sobrinhas. É muito triste, mas agradeci a Deus, pedi tanto, rezei tanto. Pedi a Nossa Senhora que passasse à frente”, agradeceu Elizete Serafim, mãe da vítima de 17 anos de idade. “Graças a Deus que encontramos nossas meninas com vida. A gente não dormiu. Só temos a agradecer à polícia, aos bombeiros, a todas as pessoas que não pararam um instante desde o sumiço delas procurando na mata. A vocês da imprensa que tanto ajudaram e todas as pessoas que rezaram, que também viveram essa angústia com a gente”, complementou Neidimar Pinheiro, mãe de Gabriela e da adolescente de 14 anos.

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