Por Patrícia Gomes Sampaio (Advogada)
Marília não pediu licença para entrar: há seis anos sua voz estava nos barzinhos, nas ruas, nas bancas, nas casas, nos palcos. Suas aparições foram constantes na TV, na internet, nas rádios. A potência em forma de mulher tomou conta de tudo e deixou apenas duas de quatro opções: gostar ou gostar, cantar ou cantar. Até os mais céticos se viam batendo as mãos nas coxas ou os pés no chão.
Marília abriu portas para outras cantoras de sertanejo e embalou, nos fãs, das gargalhadas mais estridentes com os amigos aos choros mais soluçados debaixo do chuveiro de casa. “Como se fosse alguém da família”, Tuany me confessou. “Por que ela sempre estava ali”, completei. “Em todos os momentos, até quando a gente estava só… ela estava lá também”.
Quando um furacão como Marília passa, passa também um pouco de nós: passam as cervejas geladas com trilha sonora, as noites, os shows, os dias, as faxinas, as viagens. Passa o que aconteceu e o que ainda estava por vir. Ficam os ingressos, os palcos montados, as letras das músicas em uma legenda qualquer, os vídeos na lista dos vistos por último… Tudo o que, uma vez ou outra (ou reiteradamente), será acessado na memória.
Dia cinco de novembro o mundo silenciou e tudo o que eu queria era me segurar na primeira informação veiculada: que ela havia sido socorrida e se recuperava. Enquanto todos os lares sintonizavam a mesma notícia de sua morte, minha negação dizia que se eu não ligasse a TV não seria verdade.
Carpinejar perguntou na manhã seguinte: “Marília ainda está viva em seus stories, como pode isso?”. Não sei, Carpinejar. Mas dá para ver em suas publicações que Marília foi amor, humildade e alegria até o último minuto. Este foi o seu legado: entonou sua vulnerabilidade (e a de tantas outras) e teve coragem para tocar o que quis. Sem quaisquer planos, fez a hora para que outras mulheres, cantoras e anônimas, entoassem a paixão sem a menor vergonha.
Assim como Marília não pediu licença para chegar, Marília não se despediu. Não teria como: Marília não se despede porque Marília é sentimento.
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