‘A escola é a noite. Quem vem de banda, como eu há muito tempo, a minha escola foi a noite. A gente vai se familiarizando com o microfone, com as noitadas da vida. As adversidades que a gente encontra. Sair de Iguatu pra tocar fora, entre outras tantas.”, afirma Bêu Paulino, professor e também músico.
Bêu Paulino, como é conhecido, tem uma bonita trajetória na arte, se sobressaindo a música, além de cantor, dono de bandas entre essas: Forró Beleza e atualmente Forró do Sertão, ou mesmo voz e violão, ou acompanhado de regional, onde tem Bêu, tem sempre alguém arrastando o pé, ou acompanhando a letra das canções. “Eu quando fui pra noite, já tinha terminado minha faculdade, tinha 23 anos, muito embora eu já tocasse, mas era uma renda extra que me dava prazer. Herdei isso do meu pai, (João Paulino, in memoriam). A noite é uma escola. Você passa por violão, teclado, algo mais. No meu tempo era mais prático, havia poucos artistas. A gente ganhava legal. Hoje tá muito pulverizado, então, a galera toca por qualquer preço, essa é a realidade”, pondera dizendo ainda que “muito embora tem se valorizado um pouco agora. A pandemia veio para comprometer muita gente. Mas, talvez 15%, 20% vivam exclusivamente da música. Com essa pulverização toda não dá pra sobreviver da música, com raras exceções. Um cara quando muito talentoso acabava sobrevivendo, ou não tendo outra opção, não tendo outra arte. Emprego não é fácil! Ou se capacita, ou tem um emprego. Infelizmente é isso. A maioria dos artistas têm essa arte, a música como renda extra. Meu caso foi esse também”, disse.
E a ida para a noite, partiu para formar uma banda. “Era um cenário muito bom. Com as campanhas políticas, por exemplo, a gente acabou se sobressaindo muito. Tinha muita visibilidade. Fomos para vários estados do Nordeste. Mas, a escola foi à noite. Eu acho que bares, restaurantes precisam valorizar ainda mais os artistas, porque tem que ter talento pra tá ali. Que bom você tá com a família, usufruindo daquele momento de lazer e ter uma boa música, um artista ali se apresentando. Muitas vezes sem essa valorização”, conta. “Quando eu vim para Iguatu, eu tinha participado de um aniversário de uma irmão meu. Lá, era pago o ‘couvert artístico’, uma gratificação. Foi então que trouxe para cá a ideia. No Valter’s Comidas Típicas, comecei a fazer efetivamente à noite pra valer. Na época expliquei ao proprietário que não precisava me pagar tirando da comida, da bebida. Ele passou a cobrar um Cruzeiro. Na época ele nunca precisou botar extra, sobrava do cachê. E hoje pegou. Têm pessoas que não valorizam o artista. Mas, dá pra se pagar o artista só com o couvert, tem gente que ganha ainda em cima disso”, pontua o artista.
Uma realidade que ainda se vive nos tempos de hoje, trabalhadores das mais diferentes atividades buscam o amor pela arte para ganhar um extra em bares e restaurantes. Entre esses estão os artistas Neto Alves e Zizi Alves. “A gente não vive da música. Eu tenho emprego. Ela tem o emprego dela. Isso seria um hobby. É uma brincadeira, mas que não deixa de ser um trabalho sério e de responsabilidade. Por exemplo a Zizi, já foi chamada para cantar em várias bandas, inclusive Mastruz com Leite, mas nunca quis. E veio se envolver com a gente que não é profissional. Mas, é uma parceria que deu certo. Eu não sou músico profissional.” declara Neto, que há cerca de 2 anos, pouco antes da pandemia, firmou parceria Zizi Alves, baiana, que há 30 anos mora em Iguatu.
“A minha parceria com o Neto, surgiu por acaso. Eu precisei ir à TV e não tinha quem me acompanhasse na época. Desde esse dia a gente passou a fazer esse trabalho em parceria. Acreditamos nesse trabalho e vem dando certo. É muito bom tocar a noite. Eu gosto. Faço um monte de coisas na vida, mas pago minhas contas com a Moda. Não criei meus filhos com a música, mas do meu trabalho com a moda. Já recusei vários chamados de bandas de renome, abdiquei em por causa da minha família. Agora que já estão criados a gente canta. É muito bom”, complementou.
A música é um prazer na vida do servidor público Ketson Nunes. “Se for pra viver da arte no interior é difícil. A gente toca assim, uma noite aqui, outra mais adiante. Mas o sustento de casa não vem do trabalho da música. A gente acaba tocando mais por gostar da noite, desse clima dessa amizade que vai se formando.”, disse afirmando que situação piorou muito com a pandemia da Covid 19. Mesmo ainda não sendo possível viver somente das artes, os planos de muitos artistas é continuar nessa luta, levando a bandeira pela valorização da arte e da cultura.
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