‘‘O discurso de ‘pobre de direita ser burro’ é claramente arrogante, preconceituoso, e uma falta de entendimento e de empatia […]’’ – Esther Solano – professora da USP (Universidade de São Paulo), que estuda conservadorismo no Brasil
Levando em conta que a direita, no Brasil, não seja uma corrente política de tão fácil compreensão como a Esquerda – onde é mais propagada e, por isso, conhecida e dispõe de maior visibilidade -, faz-se necessário, primeiramente, entendermos que quem não conhece minimamente de política, já se considera de esquerda, haja vista que é levado a crer, mediante o velho engodo canhoto, que a esquerda é a boazinha, e a direita é a malvada no percurso da história – assim, visão simplesmente maniqueísta.
Ocorre que as deturpações e o posto de paladina da justiça – sabe-se lá de quem outorgaram tal direito – foi, sem sombra de dúvidas, uma das melhores cartadas dessa gente. Afinal, como melhor dominar a massa senão pela desestruturação educacional e cultural? Pelo viés político somente, seria impossível descerebrar tantos jovens e fazerem-nos pensar defenderem os pobres, os gays, as mulheres, os negros e por aí vai.
Mas, e o pobre direitista, onde entre nessa história? É incongruente ser pobre de direita ou não? O correto seria sempre o axioma ‘‘pobre, logo, sou esquerdista’’? Bem, para tomar a reflexão mais realista possível, tomemos como exemplo uma figura típica em toda parte do nosso país. Dos mais humildes. Certamente todos conhecem aquela caricata figura do homem do campo: analfabeto, devoto, trabalhador, proprietário, no máximo, de alguns palmos de terra – geralmente herança de família.
Pois bem. O homem humilde que aqui trago como exemplo, é cultural e tradicionalmente religioso – desses que tem um pequeno altar num recanto qualquer da casa -; respeita os seus antepassados cristãos e introduz em seu lar as diretrizes que lhe foram passadas, aos seus filhos e netos, visando perpetuar a missão de levar a Palavra de Cristo. Ou seja, o traço conservador é um traço hegemonicamente direitista, não esquerdista. Mas vamos em frente.
O humilde homem da roça acredita na força do seu trabalho. ‘‘Acorda com os galos e vai dormir com as galinhas’’, como diz o ditado que remete a acordar muito cedo e dormir igualmente cedo. Passa o dia sob o sol escaldante da lavoura. O homem simples não espera que o Estado sorva todas as suas necessidades. O Estado, nesse caso, é retraído, mínimo como deve ser. Obviamente, o estamento tem obrigações para com todos, claro, mas não inflado como os esquerdistas idealizam como o ideal. O simplório agricultor não espera por assistencialismos exacerbados. Acredita, antes, ao invés de invadir terras e promover algazarras de toda sorte, no seu suor e na sua enxada; na força do seu trabalho – e adivinhem, essa atitude é típica de um homem de direita, não de esquerda.
O povo humilde do nosso país, a esquerda queira ou não, é essencialmente de direita. As inúmeras falhas da nossa Educação os impediram de terem consciência crítica, mas, ainda assim, são direitistas porque valorizam a família, o trabalho, o mercado, a Igreja. Detestam a osciosidade, a vagabundagem, o ‘‘viver do suor alheio’’ – como muitos sindicatos esquerdistas o fazem.
Ser direitista não está condicionado à sua posição social, mas ao seu caráter. Não há mal algum em ser pobre de direita.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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