Eis que chegamos ao quarto ministro da Educação em menos de um ano e meio do governo Bolsonaro. Na Cultura, já são cinco os nomes daqueles que passaram pela Pasta. Até hoje, no entanto, nenhum projeto. Essa realidade evidencia o descaso do atual governo em tudo que diz respeito à produção cultural e ao dia a dia da Educação. Esta, ao lado da Saúde, cujo ministério ainda tem a sua frente um militar como substituto do terceiro titular, em meio a uma pandemia que já matou quase setenta mil brasileiros em pouco mais de três meses, é, em qualquer governo minimamente comprometido com os interesses mais elevados de um país, uma das duas mais importantes áreas para as quais se deve dedicar a maior atenção.
Em princípio, preconizava-se a necessidade de uma escola sem partido, ignorando-se o fato de que a educação é um ato de natureza eminentemente intelectual – e, sendo um ato de natureza intelectual, fazer educação é, portanto, um ato de natureza política.
É falsa a concepção de que a educação seja um espaço estranho aos fenômenos da sociedade como um todo, alheio à forma como o trabalho está organizado nessa sociedade e à forma como se vive, nomeadamente no contexto de um modelo econômico marcado por desumanas contradições.
A educação institucional sempre foi política, e, o que pior, fez historicamente a pior política: aquela em que se reproduzem os interesses das classes dominantes e a ordem social vigente em detrimento dos menos favorecidos e das convencionalmente chamadas minorias.
A escola brasileira, por exemplo, teve os seus alarmantes índices de reprovação e desistência historicamente compostos de alunos provenientes dos extratos sociais mais carentes, e de negros, aqueles a quem se deve tanto em projetos que sob algum aspecto venham a diminuir a profundidade do fosso que separa ricos e pobres.
Diante de tudo isso, ressalte-se o fato de que, entre 2003 e o golpe de 2016, que derrubou por motivações inconfessáveis a presidente Dilma Rousseff, pôde-se ver no país, pela primeira vez em toda a sua histórica, um projeto educacional voltado para os filhos de famílias mais pobres, implementando-se no dia a dia da prática escolar o viés político de um espaço político por sua própria natureza.
Tudo isso, por óbvio, contrariou frontalmente a elite brasileira. Incomodava de modo indisfarçável aos ricos do país, que pobres ingressassem na universidade, ela mesma uma das mais prestigiadas instâncias de legitimação dos muros que separam os que mandam dos que de devem obedecer, numa relação de forças em que se hipervaloriza o trabalho intelectual em detrimento do trabalho operacional.
É por demais preocupante, assim, que se queira, de forma desavergonhada e cabotina, usar os espaços dedicados à educação institucional para defender os interesses da elite brasileira e fortalecer o projeto neoliberal que explora e oprime o grosso da população do país.
A escola foi, é e será sempre política. Resta saber a quem deve servir de forma justa e legítima.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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