Augusto dos Anjos (1884-1914) não é o maior poeta da língua portuguesa. Camões e Fernando Pessoa são os maiores. Mas é o terceiro. E o maior da nossa literatura. Infelizmente ainda mal compreendido, mal classificado pela crítica. Seu único livro, Eu (1912), não obteve o devido reconhecimento no tempo em que surgiu. Hoje é lido e respeitado pelos que sabem o que é a verdadeira arte. Longe dos cordéis e outras idiotices modernas.
Strong poet.Diria Harold Bloom. Tragicus vates. Afirmamos nós. O paraibano bardo tem a voz e o pathos da tragédia clássica. Sentiu e expressou de forma sui generis a dissolução das formas orgânicas e inorgânicas. O peso sisífico do existir. A derrocada das ilusões e a frieza de uma possível caminhada do Ser rumo ao Nada.
Desafiador e instigante é situar o poeta esteticamente. O crítico deve fazê-lo. Destarte, é imperícia e covardia do analista afirmar que há várias tendências estilísticas em sua poesia e limitar-se a esta assertiva. É preciso ajuizar a que escola pertence. Foi Simbolista, categoricamente afirmamos. Não obstante, o léxico e posições cientificistas o atraem para o Naturalismo. O orna et lima consciente e aprimorado o puxa para o Parnaso. Tensões e dicotomias trágicas o aproximam, in ultima re, do Barroco. A imensa carga de dionisismo o faz seguramente egresso do Romantismo. Todavia, com acerto, o predomínio de posturas é definidor. Simbolista. Ecce veritas carminis ejus.
Só não o podemos qualificar como pré-modernista. Erro crasso cometido por muitos pseudocríticos. Primeiro: Augusto dos Anjos não teve qualquer traço de sua formação estética ligado ao século XX modernista. Felizmente. Segundo: a própria fase de transição supracitada, só mencionada em nossa evolução literária, não deveria existir. É uma condenável idiossincrasia. Todos os estilos do século XIX, na verdade, continuaram a existir epigonalmente no século seguinte até o advento do caótico e estéril movimento Modernista.
O poeta do Eu foi, portanto, Simbolista. Da têmpera e da envergadura de um Baudelaire ou Camilo Pessanha. Que os leitores o apreciem. Que os alunos o leiam com devoção. Que os tempos hodiernos curem-se de tanta poesia ruim.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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