(Para Neiva Tindalle)
Esta semana comemora-se o teu natalício. Fiz, de mim para mim, um exercício que muito me agrada: imaginei como seríamos se estivéssemos na casa dos oitenta anos. Eu, alguns anos mais velho e tão diverso, encontraria outras matérias para reclamar e desacreditar. Mas duvido muito que tu serias diferente do que hoje és.
Vejo-te com a mesma paciência enfrentando a lida. Firme, sem perder a delicadeza; resoluta, mesmo quando a tempestade ameaça desmoronar. Vejo-te bela. De uma beleza tão tua.
E na minha imaginação tu permaneces a leal confidente, qual a Carolina de Machado de Assis, a quem sempre posso contar os meus medos, as minhas angústias e dores.
Eis um dos fatos que muito me conforta: quis o destino, ao contrário da sina do ilustre escritor, que eu tivesse um filho. E para a sorte de ambos, dele e minha, a mãe escolhida foste tu.
Vindo de ti, ele não poderia ser diferente do que já se mostra: generoso, respeitoso e gentil. E o menino é pai do homem, dir-nos-ia o bruxo do Cosme Velho.
Confesso que às vezes e à escondida, dou um sorriso ao ver-te ensiná-lo, e por um momento as tristezas se esvaem.
Jovens namorados creem que o amor está nos grandes dramas; nos arroubos de paixão e de ciúmes. Somente com o tempo é que se percebe que o amor está nos silêncios, no perdão, nas conversas decisivas sobre a vida. É a lição do tempo no Eclesiastes, é o lema da canção que tu tanto gostas.
Não me canso de aprender contigo. Eu sou o dos livros, o distante, sempre trancafiado em meus pensamentos. Já tu és da terra, do mundo, da vida como ela é. Mas, como bem disse o poeta: “… moro longe / quem me alcança para sempre alcançará”.
E esta é a história mais antiga do mundo – desde Adão e Eva, dos pais primitivos. Esta é uma história feita com fúria, com desejo, por vezes feita das falhas. Nas malhas do devir, fomos feitos: “Somos feito dois galhos presos ao rio, que descem pela correnteza juntos”.
Foi T.S. Eliott quem disse que abril era o pior mês. Então discordo do poeta. Em abril, o teu nascimento. O teu nascimento: meu destino. Nesse destino, um filho, nossa continuação.
E é por mim e por ele que neste dia tão feliz, afirmo que o coração bate bem louco e eu digo sim, eu quero sim.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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