A ”jovem ufana” ignora as diferenças biológicas e considera que todos nós somos iguais. ‘‘Vítimas do capitalismo’’, somos levados a roubar e assassinar; pensava ela com seus óculos enormes na face e olhar perdido, sugerindo ares de intelectualidade, fingindo meditar.
Ela domina bem os jargões e trejeitos clichês da sua vertente. Traja um longo vestido florido e enormes brincos de madeira, apropriados ao figurino básico de qualquer pessoa que acha que descobriu a verdade lendo, de modo néscio, livros da mais alta qualidade em se tratando de fuga da realidade – beira à esquizofrenia mesmo.
A pequena estulta encontra-se no alto da sua’’ ignorância intelectual’’, porém, achando-se incrivelmente útil enquanto ‘‘problematizadora’’ das verdades latentes da e na sociedade.
Tudo estaria muito bem, se não cruzasse pelo seu caminho o incomum e raro ser avesso a essas bobagens de gente preguiçosa e cômoda. Refiro-me ao exemplo clássico de pessoa sensata e de vergonha na cara; que não se deixa dominar, domesticar com argumentos tão fajutos e tolos – absurdos, eu diria.
Logo descobrimos, sem nenhuma surpresa, que a genialidade da mocinha é frágil feito casca de ovo, rasa tal qual as conversas nas rodas dos ‘‘Ches’’ da vida. Ouvir falar, não é saber, débil criatura. Ela descobriu isso da pior forma – enquanto era aviltada fora do seu habitat natural. Preferiu chamar a todos de fascistas e machistas (é a saída quando não há mais como argumentar). Saiu depressa, antes mesmo de o seu ‘‘oponente’’ explicar-lhe sobre o mundo real.
Certamente, a essa altura, ela deve estar se perguntando sobre as razões de o seu discurso marxista ter falhado horrivelmente… O porquê de ele só funcionar com o seu grupinho mente aberta/fechada.
Enquanto fuma o seu cigarrinho – posso imaginar -, planeja, com aquele ódio disfarçado, pelejar contra o maldito homem que a deixou ruborizada diante de todos à sua volta.
Nesse momento a igualdade inexiste, afinal, fora posta para trás. Um ‘‘machista escroto’’ não pode ter melhores argumentos do que ela, uma moça tão ‘‘empoderada.’’
Muna-se das suas melhores frases de efeito, cartazes e gritinhos ululantes, e, juntamente com a sua trupe risível, vá mudar o mundo, garota.
O conservador está na sua frente… E sempre estará.
Os loucos não aceitam doentes.
– Ele não oferece risco. É saudável – disse o médico, tentando convencer ao louco.
– Não, doutor! Aqui, no meu quarto, ele não fica! – exclama o esquizofrênico “tarja preta”.
O médico se propunha a explicar que o sujeito rejeitado não permaneceria ali; que não havia qualquer patologia a ser analisada naquele indivíduo…
No que o louco bradou: “É doente, é doente, sim!!!”
A enfermeira, de longe, em sua modéstia, limitou-se a não revelar a compreensão sobre a ira do demente. Ela sabia que a doença era contagiosa. Que o louco tinha toda razão.
A enfermidade não constatada se dava pela própria contaminação acometida quase que imperceptível pelo homem de jaleco branco.
O médico, na verdade, era um deles, por isso não entendia a revolta do interno, atribuindo equivocadamente as suas alucinações.
O louco era lúcido, senhores. O louco era lúcido.
Estava aos cuidados da enfermeira que, ao contrário dos demais, sabia do seu bom senso e prudência. Que ele, com seus quase quarenta anos, resistira aos atropelos dessa nova geração de imbecis… Que a sua insanidade era coerente e aceitável. Que a sua rigidez, sua inflexibilidade eram dignas de odes e louvores.
“Pena você não ter aniquilado o nudista” – disse a enfermeira, desejando que o louco pusesse fim ao doente que se dizia sadio ali.
“Outras amostras virão, enfermeira. Outras amostras virão…” – sorriu o louco, com ar de justiça.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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