Seu Assis nasceu no sertão de Iguatu, nos tempos da brocha e sola. Tempos sisudos de chuva e sol, fartura na roça, peixe no açude e no riacho, amor no coração das moças alcoviteiras e dos homens que emendavam seus bigodes e amaravam as camisas, de um no outro, para decidir seus destinos e honras à ponta de suas facas afiadas. Tempos de lendas como Júlio Prestes, da Coluna Prestes, que cruzou o Brasil de ponta a ponta e Lampião, Rei do Cangaço, que virou mito ao desbravar os sertões com seu bando de cabras armados e arruaceiros
Uma vida de trabalho, simplicidade e longevidade, é a saga do senhor Francisco Juvêncio da Silva, conhecido por ‘Assis Juvêncio’, um agricultor, que no último dia 5 de junho comemorou 102 anos de vida. Ele nasceu no dia 05 de junho de 1921, na localidade de Conceição, zona rural de Iguatu, atravessou a linha do tempo e ultrapassou um século de existência, uma marca alcançada por um pequeno e privilegiado grupo de humanos.
Há mais de um século, nos anos 1920, eram outros tempos, outros costumes, outros hábitos, inclusive alimentares. Seu Assis Juvêncio sempre se alimentou bem, comida à base de milho, feijão, rapadura, carne de animais cevados em casa, longe dos alimentos industrializados. Talvez isso tenha feito deste iguatuense um entre poucos que não foi alcançado pelas doenças crônicas, fruto dos hábitos alimentares desregrados. Se não fosse hipertensão que ele tem, única doença crônica, Seu Juvêncio poderia estufar o peito e se orgulhar de ser um homem 100% saudável.
Ele é um homem simples, de olhar certeiro, correto nos gestos e nas palavras. Fala pouco, mas é dono de uma trajetória que poucos têm o privilégio de alcançar. Foram dois casamentos, o primeiro com Raimunda Bezerra da Silva (in memoriam), do qual nasceram cinco filhas: Maria Juvêncio da Silva, Francisca Juvêncio da Silva, Josefa Juvêncio da Silva, Eva Juvêncio da Silva e Zélia Juvêncio da Silva. Do segundo casamento com Joana Mourão, atual esposa, nasceu mais uma filha, Josefa Juvêncio da Silva, mesmo nome da irmã do 1º casamento, um caso tipo de homônimo na mesma família. Curiosamente, seu Juvêncio teve três filhas mulheres nos dois casamentos, e todas receberam o nome de Josefa. Duas sobreviveram, uma de cada união, a terceira faleceu ainda bebê. Ele e as duas esposas tiveram filhos homens, mas nenhum sobreviveu.
A repetição de nomes, segundo a Josefa mais nova, que ouviu dos pais, foi para atender a um costume antigo do Nordeste, hoje cada vez menos comum, sempre que uma criança nascia laçada pelo cordão umbilical, recebia o nome de José, se fosse menino, e Josefa ou Maria, se fosse menina. Segundo a crendice dos mais velhos, consagrando o recém-nascido a São José, ele estaria protegido de uma terrível morte, por afogamento, enforcamento ou sufocamento.
Trajetória
Em sua trajetória de trabalho, Assis Juvêncio dedicou tempo e mão de obra para o senhor Pedroca, proprietário de terras na região do sítio Mata Fresca, zona rural de Quixelô. Era uma relação de confiança, associada a amizade e consideração. Daqueles tempos de cultivo, plantio e colheita, ele confessa que sente muitas saudades. “Tá tudo mudado, hoje em dia. Naqueles tempos, os invernos eram bons, muita chuva, a gente plantava de tudo e tirava de tudo, arroz, feijão, milho, jerimum, melancia e até cabaça”, contou o centenário. Lembrou também os áureos tempos do algodão, o ‘ouro branco’ do sertão. Os agricultores plantavam e cultivavam em terra própria ou arrendada. Quando chegava a colheita, vendiam o produto, pagavam tudo e ainda sobrava o dinheiro para comprar roupa para a família inteira e abastecer a casa com o que não era produzido na lavoura, o querosene das lamparinas, óleo do tempero, açúcar, café, sabão e outros produtos de casa.
Numa época de poucas oportunidades na educação do país, Francisco Juvêncio não teve chances de estudar. Nunca frequentou a escola, não por falta de interesse, mas por conta da não existência dos bancos escolares onde ele morava e sua rotina de trabalho. Família para criar e alimentar, casa para cuidar, responsabilidades de dono de casa, as quais ele nunca se esquivou. Esses fatores tiraram do homem centenário as chances de ir à escola, mas ele foi gratificado com a família que ganhou. A retribuição de sua vida de trabalho, dedicação, exemplos de honestidade, respeito, verdades e transparência estão aos olhos da comunidade, pelo legado que construiu.
Atualmente, Assis Juvêncio reside no sítio Madeira Cortada, zona rural de Quixelô. Ele e a esposa Joana Mourão estão sob os cuidados da filha Josefa Juvêncio, do esposo dela, Paulo Luiz de Oliveira, e na companhia dos netos João Henrique Vítor da Silva e Kaíque Oliveira da Silva.
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