A maioria silenciosa

14/08/2021

“É um erro popular muito comum acreditar que aqueles que fazem mais barulho a lamentarem-se a favor do público sejam os mais preocupados com o seu bem-estar.” – Edmund Burke

 

Por que a direita parece ser minoria, sendo que, na realidade, é maioria? Sendo direto, preclaro leitor, respondo.

O marxismo cultural contribuiu grande e diretamente para suprimir – e até mesmo ocultar – o pensamento de direita no Brasil. Uma vez enraizada no seio educacional que a esquerda seria o bem e a direita o mal encarnado, quem se enxerga do bem, indubitavelmente, logo vê-se como esquerdista, afinal, ninguém que ficar do “lado negro da força”. Sim, trata-se de doutrinação pura e simples.

“Este tipo de ‘definição’ é fruto da lavagem cerebral marxista que nossos estudantes sofrem nas escolas por docentes que não agem como profissionais do ensino, mas como militantes de partidos socialistas ao demonizar, por exemplo, o capitalismo, exaltar o socialismo (comunismo), elogiar Cuba e idolatrar Che Guevara”, atentou Alan Ghani, economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio) ao site Info Money.

Entretanto, essa aferição conceitual maniqueísta simplista não serve para confrontar a realidade. E esta difere da proposta esquerdista. Ora, meu caro, se o direitista (e aqui não faço distinção dentre conservadores e liberais) defende um Estado mínimo e a liberdade individual, por outro lado, a esquerda defende um Estado máximo, onde este deva suprir todas as necessidades sociais (trata-se de um danoso coletivismo) – aqui perdemos toda a nossa liberdade individual proposta pela direita, obviamente.

Acredito que o silêncio da direita advém de um amadurecimento, no sentido de que perceberam que não adianta ‘‘pregar no deserto’’. Se estão munidos de bons livros, orientados por questões que verdadeiramente valem a pena focar, pouco ou nada interessa sobre as críticas dos problematizadores que reivindicam liberdade mediante o anseio pelo paternalismo estatal (sim, é um contrassenso absurdo, mas assim são eles).

Outro ponto a mencionar é a essência conservadora do nosso povo. O cidadão simplório, o dito cidadão comum, não vê com bons olhos as bandeiras levantadas pela corrente opositora. Na realidade, o cidadão está mais preocupado com questões imediatistas – e também a longo prazo – da manutenção da vida e da ordem: segurança, trabalho, saúde e educação, por exemplo, do que por “ismos” desnecessários.

Questões socioconstrutivistas? Negativo! Preocupações, quando muito, é com o desrespeito à nossa língua portuguesa, condicionando-a à neutralização tola do gênero humano? Não, obrigado, “amigue” (sic), a nação maioral silenciosa não vê sequer a possibilidade de inclinar o mínimo de interesse para essa patrulha ressentida do politicamente correto. Já não se engole tais trivialidades com tanta facilidade.

Por outro lado, positivamente, a maioria silenciosa começou, há pelo menos dois anos, a balbuciar timidamente o seu interesse de “voz a ser ouvida”. O povo, ao que parece, cansou de tamanho desrespeito às tradições e normas conquistadas a duras penas no decorrer das décadas. Concomitante a isso, conseguiu ter acesso a uma literatura que oferece um viés que não as maçantes apregoadas amiúde na nossa Educação claudicante. Identificou-se com tais propostas e decidiu tomar o prumo desse estado de coisas…

A maioria silenciosa, portanto, já não é mais tão silenciosa assim. Sigamos…

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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