— Isso é um cabaré! Exclamou o sujeito ao ver seu irmão com uma garota no quarto contíguo.
— Tá bom demais! Retrucou o seu fraterno!
— É, mas vai acabar! Sentenciou de volta.
— Como é a história? Interpelou o namorador irmão.
— Eu falei seu nome, por acauso? (sic).
Esta história fora relembrada por nós enquanto bebíamos no último sábado. No caso, um dos presentes trouxera à tona a memória do falecido irmão. Mesmo meia década depois da sua partida para o outro plano, as histórias, pilherias e anedotas por ele vivenciadas, parecem ter ainda mais vida. As situações e personalidade da figura, parecem terem saído da mente fértil de algum criativo diretor artístico, dado o teor cômico dos enredos.
Relembramos, assim, muitas outras histórias das quais seria impossível supitar o riso. Nisso, comecei a refletir, ainda com os colegas à mesa, sobre a brevidade da vida e, como já dizia o também falecido Renato Russo, como: ‘‘O tempo é tudo que somos’’. Somos apenas um período insignificante se o compararmos com a temporalidade da terra, e mais ainda se com a do universo.
Neste instante, flagro-me pensando nos outros amigos que também já fizeram a passagem. Olho para o céu e, com o vento caloroso a soprar levemente naquele dia quente, sinto o peso do existir e a fragilidade da vida caírem sobre mim. E reflito sobre a nossa impotência ante a morte. O que nos resta é, tão somente, viver de modo a deixar um pouco de saudade aos que ficam; ao menos nos corações dos que nos importam.
Sim, amigo leitor, essa é a dura realidade da vida… Ou da morte… A de que, por mais que tenhamos consciência da nossa finitude, do perecimento do ser enquanto matéria, ainda achamo-nos surpresos pela radical novidade de estarmos aqui e, daqui a pouco, como que num passe de mágica, já não mais existiremos para este mundo.
Nosso subconsciente hesita, reluta em acreditar que o nosso último conhecido, sobretudo se amigo ou parente próximo, se foi. ‘‘Ontem mesmo o vi; conversamos… Como pode estar morto agora?’’, diz o nosso incrédulo cérebro. Entretanto, a realidade crua em nada se importa com os seus sentimentos e dor, tampouco reconhece a importância que esta ou aquela pessoa tinha em sua vida. A realidade da morte chega, muitas vezes, sem avisar, e carrega consigo quem amamos, quem odiamos… Até chegar o dia em que nos levará. A ti e a mim.
É… Como diria o nosso saudoso amigo: ‘‘Isso é um cabaré!’’
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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