A mulher de Gomorra

12/07/2019

“Conto”

A mulher foi categórica:– não quero ver chamego seu com nenhuma quenga amanhã. Nos outros dias eu aceito, amanhã não. A verdade é que eu, um pé-rapado, não podia dizer não a ela, que tanto me ajudou nos momentos em que eu só conseguia pensar pela cabeça de baixo. A mulher, em geral, gosta de se fazer esperar. E, embora ela se faça esperar por um capricho qualquer da natureza, é sempre a primeira a avançar, deixar sorrateiramente os pertences na casa de quem ela quer. Exigir decisão do homem.

A questão toda é que ela sabia tanto quanto eu que sempre seria aquilo: trepar por trepar. Daí a pressa, o apartite, a falta de interesse pelo jogo. Todas essas questões só me vieram à cabeça depois desse ultimato inesperado. Eu não sou de pensar muito no que pensam as mulheres. Veja só. Para um lascado feito eu, ter tido, à época, sete mulheres à disposição é um privilégio. Todas céleres, todas famintas pelo prazer. Só existia um código entre nós: nada de compartilhar sentimentos, passado ou futuro. Só o presente, o momento.

Provavelmente, se você não me conhece, deve estar pensando que sou um gabola, um machista etc. E em parte talvez você tenha razão. O homem, quando lhe é tirada a dignidade de um bom emprego, de um estatus etc, só pode se orgulhar das vulvas que come. É assim desde os tempos antidiluvianos. Mas se você ainda está lendo, é certo que não é melhor do que eu: está horrorizado com minha linguagem e, ao mesmo tempo, curioso. O troço é que você quer aparentar ser mais puro, mais nobre, numa palavra: mais politicamente correto. Não te condeno. Se você for homem, deve haver, no seu radar, uma mulher que ficaria puta com o que escrevo. E esta mulher é o alvo do seu desejo.

Só que as histórias simplesmente são o que são. Eu estou dizendo isso para que você entenda, ingênuo leitor, que existem mulheres e mulheres. Ou você as decifra, ou elas te devoram. A moça a qual me referi no início, riria de você e sua parcimônia. Dentro de quatro paredes, pois os tempos são outros…, ela questionaria sua masculinidade. E é por isso que ele sempre volta pra mim. Três vezes no ano ela vem me ver. Nesse ínterim, ela conhece caras como você, fica e até namora. Mas fica entediada e me procura. Porque eu sou sempre o outro, o que não quer nada com ela nem com ninguém. Sou o enigma que ele jamais decifrará.

 No entanto, a questão era a seguinte: no dia que ela marcou, tinha outras três que disseram o mesmo. Não sei porque elas querem estar comigo num dia ruim como meu aniversário. E não pense que a arte de driblar três mulheres ávidas é simples. Mas como eu o fiz é matéria para o próximo conto.

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