A nova idade

07/03/2020

Antônio Pereira de Oliveira

1948, em outubro eu faria 21 anos de idade. Solteirão, precisava cuidar da minha independência, tomar conta de minha vida. Laborando por trás de um balcão em num estabelecimento comercial, eu percebia um salário de seiscentos cruzeiros aproximadamente. A pecúnia não era significativa, mas com a ajuda de Deus dava para enfrentar a barra. Aluguei uma casa na rua 13 de maio, do lado da sombra, bem próxima à rua de Pedro Araçá, hoje rua José de Alencar. A morada era ladeada à esquerda por um vasto terreno baldio e à direita pela casa em que morava o Sr. Leonardo Maia Lima Verde.

Alugado o rancho, que, dali em diante abrigaria os meus dias, encomendei ao carpinteiro Pedro Assis Feitosa seis cadeiras de palhinha, e uma mesinha para a sala de visita, uma mesa para a sala de jantar, e quatro cadeiras com assento de couro. Levou um bom tempo para o recebimento dos móveis encomendados e outro bem maior para pagar ao modesto artífice.

Quando finalmente, depois de longa e paciente espera, a casa ficou mobiliada, diligenciei, para que os potes da cozinha fossem abastecidos com água suficiente ao bom andamento dos serviços de casa. A água era apanhada, em cacimbas abertas no leito do rio, ali perto, e transportada, pelos aguadeiros, no lombo de animais. Achas de aroeira e sabiá foram depositadas ao pé de fogão de alvenaria. Na pequena dispensa, encontravam-se pacotes de legumes e outros gêneros. Um taco de carne de sol pendia do alto a um canto.

Olhando em volta, depois de constatar que nada fugira a meus cuidados, dei-me por satisfeito e tratei de arrumar os trens de minha mãe que chegara naquela dia, de Acopiara, onde ficara por um bom tempo com os tios. Ela dormiria no único quarto da casa. Eu me arranjava em um fiango aramado na sala de visitas, sem prejuízo de um bom sono reparador.

A partir de então minha vida tomou sentido. Todas as manhãs apanhava a pequena cesta e, com ares de cidadão responsável, ia fazer o mercado. A compra de uma quarta de carne de gado, ou de porco, toucinho e uns molhos de coentro e cebola, era uma tarefa diária imprescindível, pois não dispunha de geladeira para conservar, resfriar e congelar alimentos. Éramos somente duas pessoas, e minha mãe administrava muito bem a casa.

Dentre muitas amizades feitas, nesse tempo destaco, entre outras, o relacionamento com o marchante José Davi, por uma particularidade – tornei-me seu compadre. Ele morava na mesma rua 13 de maio. Eu passava diariamente pela sua calçada e, não raro, dava uma paradinha, em sua casa, para dois dedos de prosa. Puxava uma cadeira e ficava a conversar por um bom tempo. Certa feita, num nobre gesto de consideração, José Davi convidou-me para apadrinhar uma de suas filhas, a caçula Dioclecina. Com muita honra levei a criança à pia batismal na Igreja Matriz de Senhora Santana.

Fechando o ciclo de providências da nova idade, alistei-me no Tiro de Guerra 207, local, para prestação do serviço militar obrigatório. Fui incorporado no ano de 1948, incluído em 01.04.48 e excluído em 20.12.48, como reservista de 2ª Categoria.

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