A origem dos símbolos do Advento/Natal – Parte III

03/01/2025

Profª. Drª. Jaquelini de Souza

Historiadora e professora efetiva da URCA

Segunda-feira, dia 6 de janeiro, encerra-se o tempo do Natal com a Epifania do Senhor, ou o Dia de Reis, por isso ainda há tempo de conhecer a história de um personagem sempre presente, mas muito mal compreendido e mais ainda muito desrespeitado, tanto pelo capitalismo, como por quem desconhece a história e as tradições cristãs, estou falando do polêmico Papai Noel.

A lenda do Papai Noel está associada à vida real de um bispo, Nicolau de Mira ou São Nicolau, que nasceu em Patara, viveu na Ásia Menor (atual Turquia) e faleceu nesta mesma cidade em 350 d. C. Ele foi bispo da cidade de Mira (Turquia), sofreu perseguição durante o governo do Imperador romano Diocleciano, chegando a ser torturado e preso, mas solto sob o governo de Constantino. Foi um dos 318 bispos que participaram do Concílio de Niceia em 325, na ocasião deu um tapa no bispo Ário, que foi condenado como herege no Concílio por negar a natureza divina de Cristo.

São Nicolau foi um bispo muito amado por sua comunidade, conhecido por ser um homem muito bom, particularmente com as crianças. Uma das histórias associadas a ele é de distribuir presentes para as crianças pobres no dia do seu aniversário, 6 de dezembro. Até hoje em regiões mais católicas da Europa é neste dia que se troca presentes, não no Natal. Foi nos países protestantes que a tradição da troca de presentes foi levada para o Natal, para que a festa de São Nicolau não competisse com o Natal.

Quando a cidade de Mira foi saqueada em 1087, soldados de Bari na Itália levaram seus restos mortais, onde até hoje está. Dando início uma devoção a ele que se espalhou por toda Europa. Como seu dia é comemorado perto do Natal e muitas das histórias associadas a ele são sobre caridade com crianças, ele passou a ser conhecido como Papai Noel, que é uma adaptação portuguesa da palavra francesa para Natal, Noël.

No século XVI surgiu na Inglaterra a tradição do “Espírito do Natal”, que representava sentimentos positivos em relação a festa, como música e comida, por isso, este “Espírito do Natal” era representado como “gorducho”. Quando os puritanos (uma ala radical do calvinismo) assumiram o poder, após a Revolução Inglesa, proibiram a comemoração do Natal em 1644, alegando que não tinham base bíblica para a festa e que suas tradições eram mais pagãs que cristãs. Aliás esta é a fundamentação porque muitos evangélicos não comemoram o Natal, especialmente de alguns ramos calvinistas e pentecostais.

Porém foi só no século XIX e nos EUA que surgiu o Papai Noel moderno. Devido a enorme migração europeia, as duas tradições, a de São Nicolau e do “Espírito de Natal” acabaram se fundindo e se popularizando devido a um poema publicado em 23 de dezembro de 1823 intitulado “The nigth before christmas” (A noite antes do Natal), de Clement Clarke Moore.

Em 1860 o cartunista Thomas Nast fez a primeira imagem do Papai Noel como conhecemos hoje, reunindo todas as histórias e lendas associadas a ele, especialmente do poema de Moore. A cor vermelha de sacerdote, “gorducho” como o Espírito de Natal, entrando em chaminés e voando em um trenó puxado por renas, como no poema de Moore. Em 1930 a Coca-Cola usa pela primeira vez sua imagem em uma propaganda de Natal e o populariza pelo mundo.

Apesar de seu apelo comercial e a mistura com lendas não-cristãs é inegável que a origem do Papai Noel é cristã, na figura de São Nicolau, então cuidado da próxima vez que você brincar com alguém sobre acreditar em Papai Noel, porque ele existiu! Espero que tenham gostado, e um abençoado último domingo de Natal.

 

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