A roupa nova do sacerdote

25/05/2019

Quando os fiéis vão à igreja católica participar de ato religioso e lá se deparam com o sacerdote devidamente ornamentado para a celebração, não imaginam que por trás das vestimentas devidamente alinhadas e passadas a ferro quente está o trabalho do profissional dos bastidores, que fica atento para deixar tudo pronto antes da reza começar. Vandeir Fernandes de Lima, 39, sacristão, cumpre uma tarefa que vai além de sua função. É ele quem conserta toda a indumentária do padre e do bispo, usadas por esses religiosos na catedral de São José, na Av. 13 de Maio.

A expressão ‘a roupa nova do sacerdote’ quer dizer que o paramento está sempre bem cuidado pelo sacristão. Cada vez que a indumentária é vista pelos fiéis sendo usada pelo padre ou bispo dá a impressão de ‘nova’, tamanho é o zelo com o qual é preparada. Além de usar seus dotes para consertar, Vandeir supervisiona a lavagem, quando as peças vão para a lavanderia, e também o tingimento de alguma eventual vestimenta. Tudo precisa ficar impecável para uso. É dele também a supervisão de lavagem das toalhas de mesa da paróquia.

O sacristão exibe a casula vermelha usada pelos sacerdotes nas celebrações de São Sebastião, ‘comum dos mártires’

Vandeir Fernandes milita como cuidador das indumentárias dos padres e bispos há mais de duas décadas. Começou ainda na adolescência desde quando iniciou sua caminhada na companhia dos religiosos. Ele mesmo afirma: “Fui criado pelos padres, não é de hoje minha vivência com eles”. Não por acaso ele mantém, na própria igreja, catedral de São José, na Rua 13 de maio, um kit com os instrumentos usados nos consertos das vestimentas. Um trabalho minucioso feito a mão com muita perícia usando tesoura, linha, botão, strass, pedraria, aviamentos, renda e outros ornamentos da alfaiataria. No kit de conserto não pode faltar agulhas, tesoura, linha, cola, ‘unha de gato’ (instrumento útil para corte em local que a tesoura não entra).

Simbologia dos paramentos

Vandeir relata que por se tratarem de vestimentas confeccionadas com muitos detalhes de decoração feitos, conforme a orientação litúrgica, o conserto precisa também seguir um padrão de estética para manter a originalidade. Até na hora de passar os paramentos é o sacristão quem faz. Ele argumenta que as vestes, algumas com ‘pregas romanas’, precisam também de técnica para passar e ficar prontas para uso. Os consertos levam horas e exigem recuperar a vestimenta por completo. Por questão de adaptação, muitos acessórios são comprados no comércio em lojas específicas e adaptados.

Os bordados litúrgicos fazem parte do processo da igreja. Alguns paramentos são bordados com lírios, outros com cachos de uva, (referência à eucaristia), ainda existem os que exibem o cordeiro (numa alusão a Jesus Cristo, o cordeiro imolado). Segundo o sacristão, os paramentos também exibem os símbolos da eucaristia, o cálice, a hóstia, o ramo da videira, de onde nasce o vinho e até as iniciais JHS-Jesus Hóstia Santa.

Cuidar do sagrado

Vestimenta roxa é usada em celebrações da quaresma, do advento ou cerimônias fúnebres

Chama a atenção a dedicação do sacristão Vandeir em cuidar também dos objetos litúrgicos, o cálice e outros utensílios usados pelos sacerdotes nas cerimônias religiosas, a separação de todos os objetos, para cada tipo de ato religioso (missa, batizado, casamento, cerimônia fúnebre). “É minha função cuidar daquilo que é sagrado”, disse. Embora remunerado pelo trabalho, Vandeir garante que não faz somente pelo soldo, mas sim por amor à causa e respeito ao sagrado.

O sacristão domina bem o conhecimento sobre cada tipo de vestimenta que o sacerdote vai usar, de acordo com a época do ano, seguindo orientação de Decreto do Vaticano, inclusive na cor da indumentária. ‘Casula’ ou ‘paramento’ são os nomes atribuídos às vestimentas de cores diferentes, cada cor definindo o tipo de cerimônia, conforme o período do ano. A roxa usada em época do advento, quaresma, ou cerimônias fúnebres. Amarelo (ouro) ou branco, em batismos, casamentos e missas de padroeiro. O vermelho é propício para o ‘comum dos mártires’ festas de São Sebastião, o verde, ‘tempo comum da igreja’ (sem especificidade) período mais longo da igreja. O rosa simboliza a alegria e só é usado em duas ocasiões no ano, no advento e na quaresma. Vandeir explica sobre o uso da túnica, peça comum a todos os sacerdotes, inclusive a maior autoridade da igreja católica, o papa, que é a túnica na cor branca. Sobre ela, o sacerdote usa a estola (símbolo sacerdotal) peça de uso obrigatório na celebração religiosa.

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