“Hominum natura novitatis ac peregrinationibus avida est.”
Plinius Vetus
Imagine o leitor a chegada de Ulisses a Ítaca depois da vitória sobre os troianos. Ele fora o maior vencedor. A guerra durou dez anos e mais dez este herói passou perdido por mares e terras até chegar à sua querida ilha e aos braços da esposa fiel, Penélope.
Houve ainda a luta contra os usurpadores do seu trono. Matou-os a todos e reiniciou o seu reinado. Imagine o leitor…
Quanta festa, quanta euforia naqueles momentos vitoriosos! O dia da vitória foi todo de algazarras, risos e fanfarras. Todos muito felizes. Os súditos, o filho Telêmaco, a esposa dedicada. Ele próprio gratíssimo aos deuses que o trouxeram de volta para a casa.
Ulisses mal podia esperar pela noite. Ter nos braços, no leito conjugal, sua desejada esposa. A noite veio, os convidados se foram. O herói e sua amada amaram-se longa e apaixonadamente. Quase até o surgir do novo dia. Exaustos e felizes procuraram o sono. Penélope logo adormeceu. Plácida, dócil e fiel. Mas Ulisses, inexplicavelmente, não achou o caminho do sono. Por quê?
O vencedor de Troia foi até a sacada do palácio e olhou para o imenso mar…. e chorou, chorou amargamente….
Ulisses, o valoroso herói, simplesmente se deparou com o Vazio. Constatou, aterrorizado, quão vazia é a glória. As guerras, as vitórias terrenas, a prometida fama são apenas cinzas ao vento…
Então, no espelho da alma, Ulisses viu a serena verdade de tudo. Deveria fazer uma segunda viagem. A decisiva e plena jornada. Uma viagem sem barcos nem exércitos. Solitário caminho em um mar sem praias, sem portos…
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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