Com a permissão do caro amigo leitor, mas não resistimos e voltamos com o tema dos ‘becos’ de Iguatu. O leitor pode até falar que é assunto repetido, banal, fútil, mas admitamos, todo mundo quer saber a rotina deste ou daquele ‘beco’ de Iguatu. Quem são as pessoas que vivem lá e porque escolheram aqueles lugares inusitados para morar.
Mesmo com nossa produção garantindo que havia mapeado todos os becos de Iguatu, na verdade faltaram três. O beco da Rua José de Alencar, da Rua Major Pedro Alcântara no Cocobó e o ‘complexo de becos’ mais inusitado que o leitor tem notícia. Entrando pela Monsenhor Coelho, saindo e entrando pela Deocleciano Bezerra, saindo e entrando pela Av. Agenor Araújo. Neste caso o beco parece o desenho de um pedestal com três lados; sendo um para a Deocleciano, outro para a Monsenhor Coelho e outro para Agenor Araújo.
As três vielas são repletas de moradores e homenageiam um ilustre cidadão de Iguatu: Luiz Alves Barreto, vereador por três legislaturas (1963/1967 – 1967/1970 -1973/1977). Luiz Barreto que também foi homenageado com nome de rua faleceu em agosto de 1973, vítima de atropelamento em Fortaleza. Os familiares do filho ilustre continuam ocupando parte dos imóveis do beco que dá acesso à Rua Deocleciano Bezerra para o interior do aglomerado. Não há em todo o conjunto de becos nenhuma placa indicando o nome do homenageado, mas a família afirma que foi lei aprovada na Câmara e sancionada.
Outra moradora ilustre do complexo é a senhora Marlene Barbosa Costa, costureira profissional e dona da loja Marlene Aluguel (aluguel de roupas para casamentos, festas, debutantes, colação de grau). É o único estabelecimento comercial que fica no interior dos becos entrando pela Rua Monsenhor Coelho. Nesses três becos, todos os moradores se conhecem, a maioria já tem tempos que mora lá, a média de permanência é de 30, 40, 50 anos.
Beco com nome, placa e tudo está na José de Alencar. O homenageado, Wilton Correia Lima Filho. É um beco em forma de ‘T’ com entrada e saída por ambos os lados, Deocleciano Bezerra e José de Elencar. A entrada pela Deocleciano funciona como um escape. A maioria dos imóveis é garagem das casas com a frente para a José de Alencar. No lado do ‘Beco’ que tem a placa de identificação (entrada pela José de Alencar) são 9 imóveis residenciais, um deles, no fundo é a última parada. A vantagem para os moradores de ambos os lados é que têm duas opções, entrar ou sair, pela Deocleciano Bezerra ou José de Alencar.
Morar num beco é uma escolha de cada um. São pessoas comuns, votantes, formadoras de opinião, consumidoras, inquilinas ou não. Estão inseridas no conjunto arquitetônico e de engenharia da cidade. Afinal, os becos são células ‘vivas’ do cotidiano das cidades, Iguatu não seria diferente. Cada lugar guarda seus costumes, sua rotina e seus ilustres moradores. Cada morador com suas histórias de vida, família, trabalho, frustrações, esperanças e sonhos.
Os becos não são apenas vielas espremidas entre ruas. Cada um deles se originou de uma artéria, e dela nasceu um bairro uma expansão urbana. Um dos becos do bairro Cocobó, por exemplo, fica próximo à Rua Major Pedro Alcântara, por onde fica sua entrada. Passou despercebido na reportagem anterior, mas é beco tão relevante quanto os outros. É um corredor de aproximadamente 150 metros de extensão, com imóveis simples de um lado e do outro, interliga a Rua Major Pedro Alcântara com a 26 de julho. O local tem nome, Travessa Major Pedro Alcântara, conhecido como ‘Beco da Bosta’, tudo porque na entrada da viela, pela Major, um imóvel que fica na esquina tem uma fossa jorrando excremento 24 horas por dia com direito a fedentina e tudo. Por conta disto e por não ter uma solução os moradores imediatamente batizaram com o apelido pouco simpático.
No interior, muitos imóveis estão fechados, mas a maioria tem gente morando. Um desses moradores é o senhor José Otávio Ferreira de Lima, um pernambucano de 66 anos que migrou para o Ceará nos anos 80. Há 20 anos ele mora com outras cinco pessoas num dos imóveis do beco. A casa com 4 cômodos e 1 banheiro foi construída com doações da comunidade. “O que me atraiu para morar aqui foi o acolhimento das pessoas, que me sempre nos ajudaram, as coisas são muito difíceis, mas aqui sempre me acolheram”, afirmou.
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