Por Rodolpho Couras
A vida é uma passagem muito perigosa, como dizia Guimarães Rosa.
Viver é muito perigoso. As coisas que o dinheiro não compra são as que fazem as pessoas ficarem com mais inveja, um jeito de lidar com o próximo, a amabilidade e a polidez com que você consegue levar as coisas, uma simples forma de comportamento eleva a cobiça dos ambiciosos ao extremo da maldade, por não conseguirem comprar com seu dinheiro os gestos de alguém espontâneo.
Uma senhora me falou certa vez que a única pessoa que tinha na vida era sua filha, quando soube que ela tinha adquirido uma doença grave, mesmo sem saber se sua filha iria morrer, talvez já lembrando de todos os momentos bonitos que passaram na vida até então; pessoas simples, mãe e filha sozinhas, numa relação na qual o único sentimento que existe é o bem querer; chorou pelo medo de perder alguém que gosta tanto, pelo convívio diário, pela relação afetiva, quem sabe numa casa simples, em um bairro simples, sem portarem absolutamente nada que os poderosos respeitam.
A vida é assim, de escolhas, você pode escolher amar o efêmero, o fugaz, o findável; os valores que tem preço e hierarquias sociais e se perder na areia movediça da vida; ou você pode determinar que vai cuidar apenas do que não se compra; do que é belo justamente devido ao seu poder único e libertador de apenas ser.
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