Desejo evocar duas metáforas fulcrais na filosofia do neoplatônico Plotino (204-270 AD). A metáfora da segunda viagem de Ulisses e a da estátua de mármore. Ambas representam o anseio da alma de reencontrar o Unum perdido após a Queda e perda original.
Na exegese da primeira imagem Ulisses não aparece como o trapaceiro configurado na obra homérica. É apenas um ícone poético para representar a busca da Plenitude perdida. Assim sendo, ao retornar para a sua ilha, ele não está satisfeito, completo. Deve então realizar a sua segunda e derradeira viagem. A alma, presa no corpo, nostalgicamente a lembrar das Formas Ideais.
A segunda metáfora nos conta sobre uma imagem bela, perfeita, feita de mármore, que foi enterrada na lama. A incorruptibilidade e perfeição marmóreas significam a nossa alma imortal. A sujeira da lama são os instintos e apelos da inferior anima, mundo inferior. Devemos a todo custo retirar tais imundícies para que a beleza e a plenitude anímicas sejam recuperadas.
Nesse contexto platônico e plotiniano, como dádiva ao fiel leitor, mais um poema nosso. Uma pequena ode, na costumeira combinação decassílabo-hexassílabo.
AD UNUM
Outra vez deve Ulisses viajar,
Mas por um Outro Mar…
Sem ondas, barcos… um Mar de Saudade!
Densa bruma esconde-nos a Verdade…
Ninguém o espera a não ser o seu rosto;
Especular, sozinho…
A Terra está além de qualquer sol posto
E não há um caminho!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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