“Sed super mel et omnia
Eius dulcis praesentia.”
São Bernardo de Claraval
Tenho estudado durante muitos anos a Idade Média e sei que todo medievalista sente, ab imo pectore, uma profunda nostalgia por aqueles mil anos admiráveis. Sim, ratifico o adjetivo. O Iluminismo enganou-se profundamente ao chamar tal período sublime Dark Age. É certo que os primeiros três séculos conheceram grandes dificuldades e transformações no modus vivendi hominum. Isto, é claro, em decorrência do caos que se instaurou após a Queda do Império Romano, poder máximo civilizatório. Na verdade devemos qualificar a Idade Média como Aetas Luminum: Idade de Luzes. Dois grandes motivos temos para ter saudades da medieva era. Ecce:
- Fides – Universitas
Na Idade Média era muito próxima, quase indissolúvel, a relação Fé versus Academia (Fides-Universitas). Disto temos muitas saudades. Antes de dar a sua aula, verbi gratia, o professor poderia rezar em alguma igreja ou capela que havia dentro da Universidade. Recordemos que as Universidades nasceram nos adros das Igrejas, circa décimo século. Nestas terríveis eras atuais não há sequer uma cruz, uma imagem de um santo, um símbolo de Deus no intra muros acadêmico. A Universidade ficou apartada de Deus e dos textos sagrados. Lamentabilis!!!
- Língua: Sermo Latinus
Durante mil anos, ou um pouco mais, a humanidade pôde realizar o sonho de falar e escrever uma língua universal. O Latim concretizou a utopia Pré-Babel. As pessoas que tinham um mínimo de cultura e, obviamente, toda a elite intelectual veiculavam o Latim como culturalis et artisticus sermo. Um conhecido provérbio francês da época ilustra bem ex expositis: Avec le latin\ par toutre l’universe\on trouve le chemin.
O homem costuma ser soberbo e arrogante quando olha para as priscas eras. Crê erroneamente que a contemporaneidade é sempre favorável. É uma falácia a ideia de progresso e evolução humana sempre na perspectiva futura. O melhor pode e geralmente está no passado. A Idade Média tem muito a nos ensinar.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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