Colho do referendado manual de filosofia de Padovani et Castagnola: O pessimismo é imanente à concepção grega da vida. Seguramente; sobretudo nos chamados períodos Ético e Religioso. O Helenismo trouxe névoas sombrias para a anima apolínea da Hélade.
Uma das ideias mais trágicas concebidas pelos gregos, causadora, sem dúvida, deste pessimismo foi a do Eterno Retorno. De remotas raízes, talvez ainda na civilização cretense, foi partilhada por Platão, pelos Estoicos e pelos Epicuristas. Segundo tal aterradora concepção existencial, tudo obedece a um ir e vir de Ciclos universais. Um repetir-se in aeterno. Todos os atos e coisas voltarão a existir exatamente do mesmo modo. Num futuro distante, mas inexorável, seremos e faremos precisamente o mesmo que fizemos. Esta visão teria sido a responsável pela loucura final do grande Nietzsche.
Nós, cristãos, não podemos admitir tal pensamento. Eliminaria qualquer possibilidade de Providência Divina. Todas as ações perderiam seus sentidos. Ética, Moral, Religião seriam vãs palavras. O Bem e o Mal apenas as mesmas peças de um jogo vazio, repetido para sempre! Terribilis cogitatio!
Veja o leitor um soneto que um dia concebemos sobre esta ideia:
AETERNUS REDITUS
Se Outra Vez nossos olhos se encontrarem
Com o mesmo fogo do primeiro instante,
Além, num outro Ciclo, e adentrarem
Do Retorno o Portal: o Outrora é Adiante!
Se Outra Vez, com surpresa, então falarem
Os nossos lábios a palavra amante;
E, estranhas, nossas mãos se entrelaçarem
Quase voltando de um Lugar Distante…
Para que servirão nossas lembranças?
Chorarmos outra vez nossas andanças
E te encontrar, te amar e te perder?!
E este poema, quantas vezes mais
Escreverei, nos Ciclos Imortais?
Tudo é o Mesmo. Nascer e Morrer!!!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
0 comentários