Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor.
A foto desta coluna foi tirada em dezembro de 2016. Sertão Central do Ceará, em algum dia de setembro de 1928, antes da data dedicada à Nossa Senhora das Dores, oito léguas depois de Iguatu, o silêncio da caatinga é interrompido pela ladainha de uma leva de tropeiros que estão a entoar cânticos repetidos em favor da fé. De terço na mão, seguem rumo a Agreste. Anos depois da Seca do Quinze, uma estiagem devastadora que matou milhões de pessoas pelo Nordeste, um homem leva na bagagem uma carga importante. A imagem de Nossa Senhora das Dores irá tomar posse da igreja construída em sua homenagem.
Voltemos a 2016
Agreste era um lugar vivo, com muitas casas boas e muitas novenas, muita fartura, festas e leilões animados. Batizados eram constantes, crismas também. A fé ali tinha sua morada e missão, mas um dia, as cidades cresceram no sentido contrário e aos poucos a comunidade foi definhando, perdendo moradores e suas casas sendo abandonadas. Agreste começava a transformar-se em uma cidade fantasma.
Aos 85 anos, dona Vanda é a memória viva do lugar e nos contou detalhes sobre a história de uma comunidade que de viva restou apenas a igreja e a fé das pessoas que lá ficaram. No cemitério onde estão enterradas as pessoas do lugar e outras que morreram longe dali. Na última cheia realizar a vontade do morto virou uma operação de guerra.
Nas ruínas da Casa Paroquial encontramos algo inusitado. Alguém, por um gesto de carinho ou de respeito, colocou a cadeira destinada ao padre pendurada no armador de madeira e de lá nunca mais saiu.
Agreste tem um açude chamado Melancias, feito ainda de tijolos de barro cozido, algo medieval e que dura até hoje que só esteve totalmente seco por duas vezes. Uma delas em 2016.
O sino roubado
Um dia roubaram o sino e a madeira de lei que cobria a mesa do altar. Tentaram vender o sino na feira de Iguatu, mas um devoto de Nossa Senhora das Dores reconheceu a peça e a pegou de volta. O tampo do altar perdeu-se para sempre. Há várias grandes casas abandonadas, algumas de portas e janelas abertas, como se ainda morassem pessoas lá.
Agreste hoje ganha vida em duas datas importantes mantidas pela Diocese de Iguatu: no dia de Nossa Senhora das Dores, comemorado em 15 de setembro, e o Dia de Finados em 2 de novembro. Nas duas datas, missas são realizadas.
Ela continua na fé de Nossa Senhora das Dores na luta pela liberdade da alma em busca da mais perfeita vida: a Eterna.
Agreste é mágica!
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