Em Iguatu, agricultores familiares estão motivados no projeto de revitalização do plantio de algodão. O incentivo vem da SEAP – Secretaria de Agricultura local que oferta horas de terra trabalhada através do programa de preparo de solo.
“Além do apoio técnico, os agricultores não pagam nada com uso das máquinas. Nosso incentivo era para ser bem mais, mas não foi conseguido um financiamento junto ao BNDES, não podemos atender uma quantidade maior de agricultores”, ressalta Edmilson Rodrigues, secretário de Agricultura, Pecuária de Iguatu.
O algodão, considerado o ouro branco, já foi uma das principais culturas que movimentou a economia do Ceará, chegando a ser na época dos anos 70, 80, o maior produtor de pluma nacional. O projeto de retomada cultura vem sendo incentivado em vários municípios através de parcerias desenvolvidas pela UFCA – Universidade Federal do Cariri, Embrapa, Ematerce, Adagri e prefeituras municipais.
Em Iguatu, ano passado o agricultor Raimundo Procópio, do Sítio Santa Clara, plantou 5 hectares, colheu 250 toneladas da pluma. “Era para ter sido bem mais, mas faltou chuva. O que choveu aqui durante todo o inverno não passou de 250mm, não foi suficiente para o bom desenvolvimento das plantas. Mas fiquei satisfeito com o resultado que colhi”, disse, mostrando-se empolgando e acompanhando o plantio.
Este ano Raimundo triplicou a área plantada, passou de cinco para quinze hectares. “Investi R$ 10 mil só em semente. A prefeitura, através da agricultura, que me incentivou, deu apoio técnico e trator que preparou a terra e fez o plantio. A tecnologia hoje ajuda muito o trabalho no campo. Se não fosse com esse incentivo, não teria continuado. Esperar que venha chuva, mais chuva para molhar o chão. Apesar de o algodão precisar de pouco água, pouco mais de 300mm, ele segura e produz bem”, ressaltou na expectativa de bons resultados.
Manejo e bicudo
De acordo com dados da Secretaria de Agricultura de Iguatu, este ano foram plantados 17 hectares divididos em três áreas, duas na Santa Clara e outra na região da Barra. O algodão é do tipo herbáceo. A variedade plantada é algodão branco BRS 433, transgênico patenteado. “A cultivar transgênica tem resistência ao herbicida glifosato e as principais espécies de lagartas que atacam o algodoeiro, possuindo alta tecnologia desenvolvida. É uma cultivar de porte médio e ciclo indicada para a região semiárida, especificamente para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, onde o ciclo se encurta e é considerado mais rápido. Possui elevado potencial produtivo acima de 4.500kg/há e rendimento de aproximadamente 38% de fibra”, explica o técnico agrícola Miguel Ribeiro, da SEAP.
A variedade também possui fibra de elevada resistência (>34 gf/tex) e comprimento superior a 32mm quando as condições climáticas são favoráveis, classificando a sua fibra como do tipo ‘longa’. É resistente às doenças mancha angular (bacteriose), doença azul e mosaico comum. “Esta solução tecnológica foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras instituições. Pode-se falar também no bicudo, não é que o algodão seja resistente ao bicudo, as novas tecnologias ajudam esse combate, mas tudo depende de manejo. O produtor tem que conviver com o inseto na roça. A solução está na maneira que vai tratar com ele. Uma das técnicas é que após o período de colheita, o campo seja limpo. Todos os pés devem ser arrancados, incinerados ou enterrados. A área fica num período de descanso e depois de três, quatro meses, pode ser plantado de novo”.
Vale a pena
As sementes foram plantadas na primeira semana de março, em cinco dias começam a germinar e logo em seguida é seguir o manejo da cultura de acordo com a orientação técnica. A abertura da primeira flor acontece após os 50 dias, ciclo total é completo para essa variedade é de menos de 120 dias, quando as plantas estão bem desenvolvidas. Raimundo Procópio está empolgado e acredita que com os novos conhecimentos e a tecnologia de manejo implantada com a orientação técnica vai continuar produzindo algodão. “Tá bem diferente de antigamente. Hoje vale a pena, mas produzir só, sem acompanhamento, é bem mais difícil, pelo investimento alto, aqui você não pode brincar. Tem que arriscar e fazer a coisa correta. Confiando também em Deus que mande boas chuvas e no tempo certo para segurar as plantas”.
Retomada
Por meio dessas áreas experimentais, a expectativa, segundo o prefeito Ednaldo Lavor, é que a retomada da produção do algodão ocorra em larga escala nos próximos anos. O gestor acredita ser possível o crescimento da cotonicultura na região através de incentivos por parte dos governos estadual e federal. “Eu nasci e me criei vendo e ouvindo a história da cultura do algodão em Iguatu e aqui na região Centro-Sul. Com o surgimento do bicudo, infelizmente essa cultura deixou de existir. A nossa ideia é que essas parcerias principalmente com o homem do campo aconteçam e a gente possa retomar o plantio do algodão. Essas primeiras áreas fazem parte desse projeto piloto. Se Deus quiser, vai dar tudo certo e teremos mais agricultores interessados em plantar a partir do próximo ano. A economia de Iguatu antigamente girava em torno do algodão. Através de muita tecnologia e das experiências adquiridas, hoje é possível, sim, a retomada do algodão para que o município volte a crescer com mais rapidez. Não tenho nenhuma dúvida que o algodão vai voltar a fortalecer nossa economia”, afirmou.
Em Acopiara, ainda existe uma indústria que beneficia algodão, um mercado promissor que tem venda garantida. Em média, a arroba, que pesa 15 quilos, foi cotada ano passado em pouco mais de R$ 30,00.
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