“As redes sociais são o paraíso das almas irrelevantes.” L. F. Pondé
“Cara, antes dele se mostrar um verdadeiro babaca nas redes sociais, eu o tinha até em boa conta”, confidenciou-me um amigo, referindo-se a um conhecido nosso.
Realmente, as redes sociais são espaços onde conhecemos um pouco de como o outro enxerga o mundo e se enxerga. Nos surpreendemos positiva ou negativamente com os nossos ”amigos” do Facebook, Instagram e outras redes das quais venhamos a fazer parte.
Creio que as maiores divergências, hoje, neste meio, sejam as questões políticas e as militâncias disfarçadas (que também são questões políticas). Claro que há, antes de tudo, pessoas – pouquíssimas – que sabem entrar e sair de um debate sem transformá-lo em uma ardilosa e acalorada discussão – que geralmente termina por criar aquela inimizade que perdurará por tempo indeterminado.
É evidente que existem pessoas inteligentes e ignorantes em ambos os lados destas defesas fervorosas. Eu, por exemplo, que já tenho por certo em quem votar para presidente da república, por outro lado, condiciono-me a não militar em favor do mesmo, por pensar que, infelizmente, a melhor opção que reputei, ainda está longe de ser um presidenciável que valha a pena tal esforço. ”Dos males, o menor”… Ou melhor: o menos ruim (ao menos na minha concepção).
Voltando ao ”conhecido babaca’’ mencionado pelo meu amigo (que também o conheço), gostaria que pessoas como este tipo, que se proliferam em proporções gigantescas, lessem um pouco do que criticam. Criticam, por exemplo, o saudoso Olavo de Carvalho sem nunca sequer um livro deste professor-filósofo terem lido. Criticam o Pondé na proporção exata da sua ignorância quanto aos livros do filósofo em questão.
E antes que digam que não li nada da esquerda… Tenho de lamentar informar-lhes que sim. Já li, por curiosidade e por obrigação. E em ambos os casos, aprendi muito, pois foi graças a essas leituras que pude discordar disto ou daquilo. De resto, fui lendo o que me ”salta aos olhos”. Afinal, no fim das contas, o autêntico babaca é tolo exatamente por obter apenas a versão unilateral que tanto lhe apetece, ignorando o mundo que poderia descobrir caso não fosse imbuído de um espírito demasiado raso.
Bem, volto agora aos ressentidos do mundo e sua vergonhosa atuação nas redes sociais: A nossa geração rebelde ficou careta. Já os idosos, ficaram descolados. Luiz Felipe Pondé, em seu livro A Era do Ressentimento, aponta: ‘‘No futuro, não seremos lembrados como a era do iPad, nem da Apple, mas como a era do ressentimento. Provavelmente, considerarão os gregos e romanos mais importantes para as civilizações do futuro do que a nossa presente […]’’.
Esse ressentimento ao mundo, essa insatisfação odiosa em relação ao imutável é, certamente, a origem da frustação da nossa geração mimada, que já não acha graça das graças da vida; que não ri de si e dos demais. Antes, prefere condenar e enxergar ofensa na sua não aceitação.
Fingem que todos são bonitos, de tal forma, até se convencerem das suas próprias mentiras, disparando, como resultado disso, o convencimento do feio, de que ele é belo. Simplesmente não há mais estética depreciativa, defeitos risíveis… somos, agora, todos semideuses. No fundo, eles não se aceitam. Perderam a capacidade da autoavaliação para a evolução. Se não riem dos seus defeitos, conflitos, físico, cor, sexo… estão mortos para o mundo real. São insossos contamináveis.
Que as brincadeiras, memes e chacotas continuem. Sempre haverá espaço para o humor! E quanto aos que se ofendem?! Danem-se! Não temos tempo para os ressentidos que não se aceitam… nem ao mundo.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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