O encontro dos nossos corpos para o toque das nossas almas é uma travessia para peito de remador.
Se eu fosse, para além de erótico, pornográfico, diria, ‘metendo, metendo, metendo’, nesse ritmo monótono, por mais que seja firme e forte, de ser apenas pornográfico nos teus ouvidos atentos ao caminho das carícias.
Mas ai de mim, que sou romântico. E por isso vou remando, remando, remando.
Porque nosso encontro tem aquele gosto quase doce, quase salgado de encontro de rio com o mar, estuário, berçário do mar, dizem os que são mais cientistas do que românticos.
Mas ai de mim, que sou romântico, e nem me considero rio entrando no seu mar, quando muito um barco remando para o horizonte.
Se você sente os remos batendo nas ondas, eu sinto as ondas batendo nos remos e assim sabemos que somos mais um do que dois.
O barco pode não saber os caminhos que os remos vão desenhando, mas sabe que no horizonte brilha um sol que pouco importa se está nascendo ou morrendo, porque a luz viva parece olhos cheios de paixão e isso incendeia tudo.
Nesse mar, só isso sabemos, existe um lugar que todos os filósofos pensaram e todas as religiões decoraram, mas nenhum homem conseguiu firmar os pés e caminhar na areia, porque até os anjos parecem pisar com cuidado nessa ilha, que uns chamam de paraíso, outros chamam de utopia, onde não há problemas, nem passado, nem futuro, com fontes de água que conforta e alimenta.
Os cientistas talvez chamem prazer, os técnicos talvez chamem orgasmo, os eruditos talvez chamem gozo.
Mas ai de mim, que sou romântico, e prefiro procurar outro nome, um que a sua boca me diz nessa língua que é só sua, contando das constelações desenhadas em mapas desconhecidos.
O mar imenso faz da praia dessa ilha impossível o seio onde dormem tranquilos todos os afogados dessa travessia trágica e feliz, onde os corpos vencidos são os vencedores e o suor é um orvalho salgado e quente.
Na língua moderna dos homens modernos talvez se dissesse simplesmente: “é foda”, na linguagem curta dos tempos modernos.
Mas ai de mim que sou romântico, é foda, que esqueço o vocabulário profano e pornográfico enquanto vou batendo com os remos as ondas salgadas do mar, feito menino distraído, até a hora de outra travessia.
Jan Messias é radialista, fotógrafo e estudante de direito
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