“Nunc mitibus quaero mutare tristia”
Horatius
É cousa conteste que a obra do disserto Pe. Manuel Bernardes (1644-1710) configura-se como um dos ápices do Seiscentismo português e da própria essência vernacular. Autor de forte índole mística, consagrou toda a vida ao cultivo das Sagradas Verdades cristãs e à correção lapidar do idioma. De sua opus maximum, Nova Floresta, colhemos alguns priscos e saborosos provérbios portugueses, aos quais, com devida modéstia, aduzimos nossos comentários. Ecce:
- Cale o que der, fale o que recebeu. É a Humilitas devota em sua essência. Por demais estulto é o que apregoa; piedoso o que in silentio Destacamos, no plano morfossintático, o valor do artigo definido como pronome demonstrativo. “o que” como “aquele que”.
- Em tempo e lugar, perder é ganhar. A gloriosa história de Portugal, nostra vera pátria, ilustra tal máxima. É preciso escoimar muitos erros que Ignaros professores de história nos ensinaram sobre Portugal. Ao tempo das guerras napoleônicas, verbi gratia, Portugal hábil e inteligentemente retirou-se com a corte para o Brasil. Nunca houve fuga. Tudo foi arquitetado e medido. O Império lusitano manteve-se e perdurou, ainda que no degredo destes trópicos.
- Mais vale um toma que dois te darei. É correlato do nosso “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”. No entanto tem mais estilo, mais elegância vernacular. Observe-se a substantivação das formas verbais “toma” e “te darei”.
- Azeite, vinho e amigo, o mais antigo. De resto, como em tudo o mais, devemos ser próvidos e observarmos a força da Traditio, do Passado. É segura lei sempre.
- Velho amador, inverno com flor. As Idades têm suas inclinações naturais; há uma ordem e um decoro que nunca devem ser quebrados. Bernardes, com justeza, ironiza o amor dos velhos. Sempre risível e de péssimas consequências.
- Não se pescam trutas a bragas enxutas. A truta é um peixe de águas geladas. Geralmente é pescado na modalidade de anzol denominada fly fishing (pesca com mosca). O pescador deve sempre entrar na água até a cintura. Tem necessariamente de molhar as bragas, testículos. Determinadas implicações sempre advêm dos nossos atos.
- Muito riso, pouco siso. Riso em excesso é para os tolos, os vulgares, os loucos. A seriedade da face deve espelhar a serenidade e sabedoria da alma.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
0 comentários