Potes, travessas, panelas, quartinha, tigela, entre outras e mais variadas peças também de decoração são confeccionadas pelas mãos ágeis e habilidosas de artesãs de Várzea Alegre. Auxiliadora Lima é uma delas. Sentada no chão da cozinha da casa dela, no bairro Varjota, mexe com as mãos o barro molhado que vai ganhando forma e logo e se transforma em uma panela.
Na terra de ‘Papai Raimundo’, como é conhecida Várzea Alegre, há um número pequeno de artesãs que ainda resistem ao tempo e continuam na produção manual de peças em barro de louça. “Acho que esse nosso trabalho corre risco de acabar. A gente conta nos dedos as pessoas que fazem na cidade, não passam de seis. Da minha família, que já foi de louceiras tradicionais, só quem trabalha ainda sou eu e minha irmã Auxiliene. Têm mais outras quatro mulheres”, lamentou.
As artesãs utilizam ainda instrumentos primitivos para fazer as peças: faca, um bastão de madeira, pedras e um pedaço de couro, que serve para alisar e dar forma aos objetos. “A gente faz do jeito que aprendemos como nossa mãe.Ela deixou de fazer louça em 2015, com 85 anos de idade, isso por problema de saúde, mas senão ainda estaria na ativa, agora faz só olhar e orientar a gente”, disse Auxiliadora.
Técnica, precisão e renda
A produção que antes já foi feita em larga escala e envolvia muitas famílias atualmente é bem reduzida. Em média cada artesã faz 20, 30 peças por semana.Antes eram dezenas de centenas de peças em barro. A produção é comercializada na feira livre da cidade e em outros municípios da Região do Cariri. Através dessa atividade, as louceiras conseguem renda. “Ainda tem gente que tem um Bolsa Família, um aposento, mas aqui em casa, essa é a nossa principal renda para sustentar a família. Meu esposo não tem ganho certo, ele é cortador de árvore, tem dia que tem serviço, outro não e assim vamos levando a vida, mas sou satisfeita com essa minha profissão”, complementouAuxiliadora.
O trabalho requer muita técnica e precisão para que as peças saiam bem feitas. Depois da peça moldada, são pelo menos cinco dias para secar antes de ir para o forno. “No forno, aqui passa muitas horas, dependendo da fornalha, passa muitas horas. E a gente não pode descuidar do fogo, tem que ficar sempre alguém colocando lenha pra não perder a temperatura”, explica a aposentada Zeli Marciano, que aos 72 anos de idade continua na atividade.
Risco de acabar
Zeli começou a ‘mexer’ com barro ainda na infância. Casou-se aos 14 anos de idade, e nesse tempo nunca deixou de ser louceira, pelo contrário, a atividade ajudou a criar 12 filhos. “O barro era nossa diversão, enquanto a mãe da gente, as tias, as vizinhas estavam tudo fazendo as peças, a gente fazia nossos brinquedos, bonecas, panelinhas, animais, tudo de barro e com isso fomos crescendo e aprendendo”, relembra.
Apesar da pouca produção, segundo as artesãs, atualmente é bem melhor de vender as peças de barro, que antigamente. Antes havia mais louceiras, tinha muita oferta e preço mais baixo. Em média uma peça varia de R$ 2,50 a R$ 60,00 dependendo do modelo e tamanho. “Mesmo assim, vejo que essa atividade vai acabar.Precisamos de apoio para o resgate dessa atividade que a gente poderia repassar através de cursos para novas gerações. Isso além de arte é geração de trabalho e renda. Eu sou costureira, mas ganho mais dinheiro numa peça de barro que fazer um short. Além de ser gratificante, é uma terapia para mim. Precisamos repassar para outras pessoas”, concluiu a artesã Auxiliene Lima.
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