As árvores fazem parte do cotidiano da cidade e das pessoas. Elas têm uma função vital para os moradores, porque além de oferecerem sombra para amenizar o calor causticante, transformam o gás carbônico em oxigênio puro para a respiração. Diariamente, são emitidas toneladas de partículas de enxofre e outros gases tóxicos na atmosfera, através das chaminés de fábricas, os aerossóis, motores de refrigeradores e das descargas dos veículos. Esses poluentes nocivos à saúde pública são convertidos em oxigênio, graças às árvores que estão no meio ambiente, para também minimizar esses efeitos.
É notável que as árvores antigas, muitas delas com mais de um século, vêm sendo preservadas, porque além de nativas (espécies típicas da vegetação original ainda da época colonial), espalham um charme sobre a arquitetura urbana contrastando seu verde natural com os traços horizontais e verticais em concreto, cimento e ferro.
Curioso é notar que cada árvore dessas tem uma história em particular com a cidade e seus moradores. Elas, em geral, recebem atenção e passam a fazer parte da vida das famílias. É uma relação de amor e adoção, e as árvores deixam de ser meras vegetais fincados em meio ao asfalto duro das ruas, para ser uma extensão da casa de quem as adotou. E assim são os oitizeiros da Praça da Matriz com seus troncos robustos e longos galhos de folhas verdes abraçando aquele logradouro público.
Árvore/casa/família
Na Rua Fenelon Lima, bairro Tabuleiro, a relação árvore/casa/família vai além. O motorista aposentado Hilton Osmar da Silva, 52, construiu uma casa entre duas árvores da espécie oitis. As árvores são antigas, têm mais de 70 anos e foram plantadas pelo antigo dono do terreno. Uma das árvores ficou com os galhos sobre o telhado e protegendo a lateral do imóvel absorvendo o calor do sol, a outra ficou por dentro da casa, entrelaçada entre as paredes. Hilton afirmou que só adquiriu o terreno por causa das árvores. Ele disse que a ideia da construção foi sua, e que contou apenas com um arquiteto para desenhar todo o projeto no papel. O imóvel fica vizinho ao antigo colégio Adahil Barreto, onde está uma sequência de pelo menos dez pés de oitis que foram plantados ali, há mais de 60 anos, pelo saudoso Dr. Raimundo Felipe, um dos fundadores da escola.
Bela e imponente
No começo da Avenida Dário Rabelo, uma árvore gigante chama a atenção de quem passa, pela sua imponência e beleza. É da espécie oitis e está ali há mais de um século, segundo o morador Tarcísio Pinheiro Nogueira, 69. “Eu era criança, a gente brincava de bila debaixo desse pé de oitis e ele já era grande”, afirmou. A planta espalha seus galhos verdes por uma grande área, no alto. No tronco são mais de quatro metros de diâmetro de muita robustez e força. A poucos metros dali, ao lado do prédio da antiga estação do trem, um pé de oitis pede socorro. Árvore antiga, por razões desconhecidas, inclinou em direção ao chão e foi escorada com pedaços de concreto. Parte da raiz está exposta, mas o tronco se restabeleceu, cresceu e se equilibrou novamente em sentido vertical. Mas pelo estado da raiz e a parte do tronco que está inclinada, corre o risco de cair. Merecia um pouco de atenção dos órgãos de defesa do meio ambiente.
Descendo um pouco mais pelo centro chegamos à Rua Floriano Peixoto, onde uma espécie de benjamim que já beira um século foi preservada no meio da artéria. Remota dos tempos em que ali, quando não existia nem pavimento e era chão batido, o tronco do benjamim já era usado para amarrar animais dos rurícolas que iam à feira a cavalo.
Rua da Mangueira
O caso do pé de manga na Rua Francisco Adolfo, bairro Bugi é único. A planta foi preservada, quando a rua foi aberta, há mais de cinquenta anos. E assim vem dando nome à rua. Muita gente usa como referência de endereço. “Minha casa fica perto daquela rua da mangueira”. “Sabe aquela rua da mangueira, a casa onde eu moro fica uma rua antes”. “Para ir para minha casa, você segue pela rua da mangueira e dobra à esquerda logo na primeira rua após passar do pé de manga”. Essas são as frases mais comuns pronunciadas. Um morador informou que ali era área de plantio de arroz. Havia um canal, o chamado ‘Canal do DNOCS’, que transportava água do Rio Jaguaribe para irrigar a terra. Além dessa mangueira, existiam outras que foram derrubadas ao longo dos anos, à medida que as construções foram avançando. A mangueira da Rua Francisco Adolfo resiste ao tempo porque a rua foi para dentro dela e por outro lado caiu na simpatia dos moradores e nela ninguém mexe, já faz parte do conjunto monumental do bairro.
0 comentários