AS FALAS COM O LUME

19/03/2022

“Et tout se plaint ainsi que les âmes perdus”

Emile Verhaeren

 

I

Não fraquejes, ó meu Lume!

Que a estrada é escura e vazia.

Não ouves? É o que queixume

Das almas em romaria…

II

Os penhascos já cruzamos

E o vale pantanoso,

Lume de ceras choroso,

Quantos mortos já velamos?!

III

Recordas? A casa antiga,

Nossa mãe, o terço à mão…

Ó não permitais que eu siga

Sem vós nesta escuridão!

IV

Os doces círios da infância,

Mirava-os sobre o altar;

Vejo-os agora a distância…

Quem me pode iluminar?

V

Velas da febre, sozinhas

Quais fogueiras num deserto…

Insônia das noites minhas…

O farol nunca está perto!

VI

Não vês? Lá no cemitério

Minha vela a crepitar…

Ardo em Passado e Mistério.

Ó Lume, estou a sonhar?

VII

Não te apagues; que eu não trema.

Deixa-me ainda falar…

E leva-me na Hora Extrema

De volta para o meu Lar!!!

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

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