AS GUIRLANDAS

13/07/2022

Nas minhas numerosas visitas ao cemitério, cumprindo o piedoso ofício em honra aos mortos, compadeço-me sempre com as pobres e esquecidas guirlandas. Flores virentes, frescas, que foram colhidas na plena vida e depois a morte as tomou. Detenho-me, a rezar, fitando-as e pensando que assim como jazem as pétalas e as folhas tão secas e abandonadas, também a memória dos que ali dormem o eterno sono padece pelo duro oblívio! Fiz então em homenagem a elas este soneto de lavra parnasiana. Alexandrinos clássicos que agora dou ao bondoso leitor.

 

                                AS GUIRLANDAS

Lacrimoso o velório e o não contido pranto

Na capela ecoou como um nefasto vento…

E as guirlandas ali eram dor e encanto,

Rosas que alguém colheu só para o Desalento!

 

A mão que as arrancou, ah! Esmerou-se tanto,

Como se não pra morte e sim a um casamento!

Guirlandas, espargi vosso perfume santo,

Que o perfume e a existência são um só momento!

 

Ainda frescas do orvalho, as rosas no caixão

São pérolas gentis. O que perfumarão

Quando a Morte as secar em suas mãos nefandas?!

 

Só o Pó e a Escuridão! As pessoas em prece…

Velas a crepitar… Quando a Farsa acabar

Só o que há de restar são as pobres guirlandas!!!

 

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

MAIS Notícias
DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL
DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL

  (....) Non nobis, Domine, non nobis...   Quando me detenho a refletir sobre a relação entre o homem e a Divindade, não procuro eco ou lenitivo na obra de Homero. O bardo dos primórdios da Hélade (supondo que tenha havido realmente um só Homero) nos fala sobre deuses...

DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL
DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL

    Quando me detenho a refletir sobre a relação entre o homem e a Divindade, não procuro eco ou lenitivo na obra de Homero. O bardo dos primórdios da Hélade (supondo que tenha havido realmente um só Homero) nos fala sobre deuses volúveis, movidos por caprichos e...

Christina Rossetti
Christina Rossetti

“Even so my lady stood at gaze and smiled...” Dante Gabriel Rossetti   Christina Georgina Rossetti (1830-1894) foi uma das máximas ladies da honorável Victorian Poetry. Ricamente educada desde a infância, sabia grego, latim, várias literaturas e era profundamente...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *