Nas minhas numerosas visitas ao cemitério, cumprindo o piedoso ofício em honra aos mortos, compadeço-me sempre com as pobres e esquecidas guirlandas. Flores virentes, frescas, que foram colhidas na plena vida e depois a morte as tomou. Detenho-me, a rezar, fitando-as e pensando que assim como jazem as pétalas e as folhas tão secas e abandonadas, também a memória dos que ali dormem o eterno sono padece pelo duro oblívio! Fiz então em homenagem a elas este soneto de lavra parnasiana. Alexandrinos clássicos que agora dou ao bondoso leitor.
AS GUIRLANDAS
Lacrimoso o velório e o não contido pranto
Na capela ecoou como um nefasto vento…
E as guirlandas ali eram dor e encanto,
Rosas que alguém colheu só para o Desalento!
A mão que as arrancou, ah! Esmerou-se tanto,
Como se não pra morte e sim a um casamento!
Guirlandas, espargi vosso perfume santo,
Que o perfume e a existência são um só momento!
Ainda frescas do orvalho, as rosas no caixão
São pérolas gentis. O que perfumarão
Quando a Morte as secar em suas mãos nefandas?!
Só o Pó e a Escuridão! As pessoas em prece…
Velas a crepitar… Quando a Farsa acabar
Só o que há de restar são as pobres guirlandas!!!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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