“The Red Death had long devastated the country”
Edgar Allan Poe
Quão inepta e parva é a Ciência! Quão frágeis joguetes somos em suas mãos! Mas quão bastarda e arrogante ela é, bastas vezes, a renegar Deus e suas verdades! Onde estão os cientistas que não conseguem uma cura para algo mais do que uma simples gripe? Ficar em casa! Ficar preso qual um rato em casa! Esse foi o mesmo preceito recomendado pela douta Ciência na Idade Média ao tempo da Peste Negra. Admirável o quanto a Ciência evoluiu!
Mas passemos, mercê de Deus, aos alfarrábios gramaticais. São sobejamente mais laudáveis. A palavra Coronavírus é um belo substantivo masculino egresso-latino formado por justaposição. Não fosse o obrigatório acento agudo dos paroxítonos terminados em “us”, seria uma lídima forma latina in tota. Dois substantivos a compõem, ambos, como supra dissemos, vindos do latim. Corona-ae (f): a coroa e virus-i (n): o veneno. O primeiro étimo define plasticamente a suposta forma microscópica do vírus, em forma de coroa. Atua, como sói ocorrer entre os clássicos, como adjetivo anteposto e modificando o substantivo. O segundo, do gênero neutro, é uma das três exceções desta modalidade genérica no grupo terminado em “us” da segunda declinação. Os outros dois são: vulgus-i (o vulgo) e pelagus-i (o mar). Virus passou diretamente ao vernáculo pela via nobre e erudita. Acrescentou-se-lhe apenas o já referido acento agudo. O vocábulo Corona sofreu o metaplasmo da síncope da consoante “n” e também a desnasalização a ela imanente. Semanticamente não houve alterações. Tanto que podemos visualizar a tal peste como “o vírus em forma de coroa”.
Ecce morbus! Eis a doença à mesa da dissecação gramatical e filológica. Mas estamos pasmados: até sob o efeito da moléstia que nos assola, ainda aqui no Brasil erramos o português! Ouço e vejo na Imprensa et reliqua dizerem os néscios: “fulano testou positivo”. “Beltrano testou negativo”. É erro! O médico ou o enfermeiro é que aplicam os testes. São os sujeitos da ação verbal de testar. O paciente enfermo é testado para que se saiba se tem ou não o vírus. O correto é: o paciente, submetido ao teste, apresentou o vírus. Ou: O teste do paciente deu positivo; ou negativo. E deixemos, rogo, sã e robusta a velha ocorrência da crase! A ignara imprensa, manancial de pecados vernaculares, tem mui amiúde estampado: Em meio a crise; em meio a pandemia (sic). É erro. O sinal indicativo da crase deve estar sobre esta vogal. “Em meio à” é locução de valor adverbial com a presença do sinal grave indicador do fenômeno de contração vocálica. Já não está bastante enfermo o idioma para que o molestemos ainda mais? Até doentes, ou mesmo à morte, cuidemos do bom vernáculo.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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